Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 15 de novembro de 2022

Kofi Awoonor - Logo o Mundo Há de Mudar

Os versos do poeta ganês revelam o quanto a vida em África sucede, tantas vezes, num quotidiano de tribulações e colapsos – calamidades econômicas, secas, pobreza, escravidão, fome, enfermidades, guerras e morte –, cenário que ou bem se o enfrenta com uma impávida resiliência, ou bem se o resiste diante das veementes forças em ação.

 

A elocução do falante é concisa, mas cortante, enfocando a dura realidade da luta pela vida no continente, histórias de desventuras que volta e meia se repetem, sem contar com os infames regimes de opressão, a que tão bem o cantor e compositor afro-brasileiro Milton Nascimento faz alusão em “Lágrimas do Sul”, numa clara referência ao regime do ‘apartheid’ sul-africano.

 

J.A.R. – H.C.

 

Kofi Awoonor

(1935-2013)

 

So the World Changes

 

Where are they?

Awlesi’s mother’s trade collapsed

the children cried and cried

“call her for me, please call her tor me”

 

The day the desert tree blossoms

is the feasting day for the fowls of the air

The evil fowls and the good fowls

The owner of the earth covers them in his cloth

promised them

when he holds the promise

Thirst shall not kill them

so the world changes

rain comes after the drought

the yam festival after the sowing time.

Do not lose heart,

have arms, we have Shields

When the powder house tails

the mother fails to make war.

Some rivers there are you cannot swim

some strong rivers there are you cannot ford.

 

A dança da vida

(Cherie Roe Dirksen: artista sul-africana)

 

Logo o Mundo Há de Mudar

 

Onde é que todos estão?

O comércio da mãe de Alewsi entrara em colapso

os miúdos choravam e gritavam

“chamem-na para mim, por favor chamem-na para mim”

 

O dia em que floresce a árvore do deserto

é um dia de festa para as aves do céu

As aves más e as aves boas

O dono da terra os cobre com sua manta

conforme lhes afiançara

a cada vez que resolve cumprir a promessa

A sede não os matará

logo o mundo há de mudar

a chuva sobrevirá à seca

o festival do inhame após o tempo de semeadura.

Não percam a coragem,

há armas, temos escudos

Quando a pólvora estocada finda no paiol

a mãe não logra consumar a guerra.

Há alguns rios que inviabilizam o nado

alguns rios de forte curso não se podem atravessar.

 

Referência:

 

AWOONOR, Kofi. So the world changes. In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary world poetry. 1st. ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), june 1996. p. 352-353.

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