Os versos do poeta
ganês revelam o quanto a vida em África sucede, tantas vezes, num quotidiano de
tribulações e colapsos – calamidades econômicas, secas, pobreza, escravidão, fome,
enfermidades, guerras e morte –, cenário que ou bem se o enfrenta com uma
impávida resiliência, ou bem se o resiste diante das veementes forças em ação.
A elocução do falante
é concisa, mas cortante, enfocando a dura realidade da luta pela vida no continente,
histórias de desventuras que volta e meia se repetem, sem contar com os infames
regimes de opressão, a que tão bem o cantor e compositor afro-brasileiro Milton
Nascimento faz alusão em “Lágrimas do Sul”, numa clara
referência ao regime do ‘apartheid’ sul-africano.
J.A.R. – H.C.
Kofi Awoonor
(1935-2013)
So the World Changes
Where are they?
Awlesi’s mother’s
trade collapsed
the children cried
and cried
“call her for me,
please call her tor me”
The day the desert
tree blossoms
is the feasting day
for the fowls of the air
The evil fowls and
the good fowls
The owner of the
earth covers them in his cloth
promised them
when he holds the
promise
Thirst shall not kill
them
so the world changes
rain comes after the drought
the yam festival
after the sowing time.
Do not lose heart,
have arms, we have Shields
When the powder house
tails
the mother fails to
make war.
Some rivers there are
you cannot swim
some strong rivers
there are you cannot ford.
A dança da vida
(Cherie Roe Dirksen: artista
sul-africana)
Logo o Mundo Há de
Mudar
Onde é que todos
estão?
O comércio da mãe de
Alewsi entrara em colapso
os miúdos choravam e gritavam
“chamem-na para mim,
por favor chamem-na para mim”
O dia em que floresce
a árvore do deserto
é um dia de festa
para as aves do céu
As aves más e as aves
boas
O dono da terra os cobre
com sua manta
conforme lhes afiançara
a cada vez que resolve
cumprir a promessa
A sede não os matará
logo o mundo há de mudar
a chuva sobrevirá à
seca
o festival do inhame
após o tempo de semeadura.
Não percam a coragem,
há armas, temos
escudos
Quando a pólvora
estocada finda no paiol
a mãe não logra
consumar a guerra.
Há alguns rios que inviabilizam
o nado
alguns rios de forte curso
não se podem atravessar.
Referência:
AWOONOR, Kofi. So the
world changes. In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary
world poetry. 1st. ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random
House Inc.), june 1996. p. 352-353.
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