Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Emily Dickinson - Três poemas curtos

Vão aqui três poemas da poetisa norte-americana, todos com aquele véu desencantado da escrita de Dickinson, impregnados pela constância com que a morte voga por suas linhas, intuindo significados, cogitando em despedidas, ao mesmo tempo que conjecturando sobre eternidades, num discurso breve e, de certo modo, reiterado.

 

A impressão que se tem é a de que a poetisa, a todo momento, ministra contenções à redação de seus poemas, à vista de imperativos comportamentais da tradição puritana a que pertenceu: um estado do ser que se pressagia em autocontrole, reprimido talvez, e que busca na poesia – quiçá – uma forma prodigiosa de resgate.

 

J.A.R. – H.C.

 

Emily Dickinson

(1830-1886)

 

My Life

 

My life closed twice before its close;

It yet remains to see

If Immortality unveil

A third event to me

 

So huge, so hopeless to conceive,

As these that twice befell.

Parting is all we know of heaven,

And all we need of hell.

 

Partir

 

Duas vezes morri, antes da morte;

Falta agora ver somente

Se a imortalidade me revela

Algum terceiro incidente

 

Inconcebível como os dois primeiros,

Que de lembrar me consterno.

Partir é tudo o que dos céus sabemos

E desejamos do inferno.

 

Delírio

(Ramiro Ramirez Cardona: artista colombiano)

 

The sky is low, the clouds are mean

 

The sky is low, the clouds are mean,

A travelling flake of snow

Across a barn or through a rut

Debates if it will go.

 

A narrow wind complains all day

How some one treated him;

Nature, like us, is sometimes caught

Without her diadem.

 

O céu vai baixo, as nuvens mesquinhas

 

O céu vai baixo, as nuvens mesquinhas...

Um floco de neve, errante,

Entre celeiros, estradas,

Não sabe se segue adiante.

 

Por todo o dia, uma brisa franzina

Que alguém feriu, se lastima;

Às vezes, como nós, a natureza

É flagrada sem seu diadema.

 

Sem título

(Jeffrey G. Batchelor: artista norte-americano)

 

If I should cease to bring a Rose

 

If I should cease to bring a Rose

Upon a festal day,

’Twill be because beyond the Rose

I have been called away.

 

If I should cease to take the names

My buds commemorate,

’Twill be because Death’s finger

Clasps my murmuring lip.

 

Se eu deixar de trazer a Rosa

 

Se eu deixar de trazer a Rosa

Em hora festiva,

Há de ser porque além da Rosa

De outro apelo estou cativa.

 

Se eu deixar de me chamar pelos nomes

Que os botões da Rosa celebram,

Há de ser porque o dedo da morte

Cerrou meu lábio murmurante.

 

Referência:

 

DICKINSON, Emily. My life / Partir. Tradução de Jorge Wanderley. In: WANDERLEY, Márcia Cavendish; FIALHO, Carlos Eduardo; CAVENDISH, Sueli (Orgs.). Do jeito delas: vozes femininas de língua inglesa. Traduções de Jorge Wanderley. Rio de Janeiro, RJ: 7Letras, 2008. Em inglês: p. 26; em português: p. 27.

 

DICKINSON, Emily. The sky is low, the clouds are mean / O céu vai baixo, as nuvens mesquinhas. Tradução de Jorge Wanderley. In: WANDERLEY, Márcia Cavendish; FIALHO, Carlos Eduardo; CAVENDISH, Sueli (Orgs.). Do jeito delas: vozes femininas de língua inglesa. Traduções de Jorge Wanderley. Rio de Janeiro, RJ: 7Letras, 2008. Em inglês: p. 30; em português: p. 31.

 

DICKINSON, Emily. If I should cease to bring a rose / Se eu deixar de trazer a rosa. Tradução de Jorge Wanderley. In: WANDERLEY, Márcia Cavendish; FIALHO, Carlos Eduardo; CAVENDISH, Sueli (Orgs.). Do jeito delas: vozes femininas de língua inglesa. Traduções de Jorge Wanderley. Rio de Janeiro, RJ: 7Letras, 2008. Em inglês: p. 32; em português: p. 33.

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