Vão aqui três poemas
da poetisa norte-americana, todos com aquele véu desencantado da escrita de
Dickinson, impregnados pela constância com que a morte voga por suas linhas, intuindo
significados, cogitando em despedidas, ao mesmo tempo que conjecturando sobre
eternidades, num discurso breve e, de certo modo, reiterado.
A impressão que se
tem é a de que a poetisa, a todo momento, ministra contenções à redação de seus
poemas, à vista de imperativos comportamentais da tradição puritana a que pertenceu:
um estado do ser que se pressagia em autocontrole, reprimido talvez, e que
busca na poesia – quiçá – uma forma prodigiosa de resgate.
J.A.R. – H.C.
Emily Dickinson
(1830-1886)
My Life
My life closed twice
before its close;
It yet remains to see
If Immortality unveil
A third event to me
So huge, so hopeless
to conceive,
As these that twice
befell.
Parting is all we
know of heaven,
And all we need of
hell.
Partir
Duas vezes morri,
antes da morte;
Falta agora ver
somente
Se a imortalidade me
revela
Algum terceiro
incidente
Inconcebível como os dois
primeiros,
Que de lembrar me
consterno.
Partir é tudo o que
dos céus sabemos
E desejamos do
inferno.
Delírio
(Ramiro Ramirez
Cardona: artista colombiano)
The sky is low, the
clouds are mean
The sky is low, the
clouds are mean,
A travelling flake of
snow
Across a barn or
through a rut
Debates if it will
go.
A narrow wind
complains all day
How some one treated
him;
Nature, like us, is
sometimes caught
Without her diadem.
O céu vai baixo, as
nuvens mesquinhas
O céu vai baixo, as nuvens
mesquinhas...
Um floco de neve,
errante,
Entre celeiros,
estradas,
Não sabe se segue
adiante.
Por todo o dia, uma
brisa franzina
Que alguém feriu, se
lastima;
Às vezes, como nós, a
natureza
É flagrada sem seu
diadema.
Sem título
(Jeffrey G. Batchelor:
artista norte-americano)
If I should cease to
bring a Rose
If I should cease to
bring a Rose
Upon a festal day,
’Twill be because
beyond the Rose
I have been called
away.
If I should cease to
take the names
My buds commemorate,
’Twill be because
Death’s finger
Clasps my murmuring
lip.
Se eu deixar de
trazer a Rosa
Se eu deixar de
trazer a Rosa
Em hora festiva,
Há de ser porque além
da Rosa
De outro apelo estou
cativa.
Se eu deixar de me
chamar pelos nomes
Que os botões da Rosa
celebram,
Há de ser porque o
dedo da morte
Cerrou meu lábio
murmurante.
Referência:
DICKINSON, Emily. My
life / Partir. Tradução de Jorge Wanderley. In: WANDERLEY, Márcia Cavendish;
FIALHO, Carlos Eduardo; CAVENDISH, Sueli (Orgs.). Do jeito delas: vozes
femininas de língua inglesa. Traduções de Jorge Wanderley. Rio de Janeiro, RJ:
7Letras, 2008. Em inglês: p. 26; em português: p. 27.
DICKINSON, Emily. The
sky is low, the clouds are mean / O céu vai baixo, as nuvens mesquinhas. Tradução
de Jorge Wanderley. In: WANDERLEY, Márcia Cavendish; FIALHO, Carlos Eduardo;
CAVENDISH, Sueli (Orgs.). Do jeito delas: vozes femininas de língua
inglesa. Traduções de Jorge Wanderley. Rio de Janeiro, RJ: 7Letras, 2008. Em
inglês: p. 30; em português: p. 31.
DICKINSON, Emily. If
I should cease to bring a rose / Se eu deixar de trazer a rosa. Tradução de
Jorge Wanderley. In: WANDERLEY, Márcia Cavendish; FIALHO, Carlos Eduardo;
CAVENDISH, Sueli (Orgs.). Do jeito delas: vozes femininas de língua
inglesa. Traduções de Jorge Wanderley. Rio de Janeiro, RJ: 7Letras, 2008. Em
inglês: p. 32; em português: p. 33.
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