Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Fernando Jorge Uchôa - Motivo de Poesia

O motivo para se escrever poesias bem pode ser a própria poesia, os poetas, suas contingências de vida: é exatamente isso que empreende o autor carioca, neste soneto alexandrino sem esquema definido de rimas, no qual há menção a nove poetas, sendo apenas um deles brasileiro – nomeadamente, Augusto dos Anjos.

 

Há, decerto – poderia arguir o leitor – alguma intenção encomiável nestes versos de Uchôa, refletida na escolha de nomes marcantes da lírica universal, cujas obras mantêm-se ainda firmes no horizonte da poética, como polos de influência para novos autores, incitando-lhes à criação, para que possam resgatar da mixórdia, da indistinção, da trivialidade, de todo o marasmo, preciosas pérolas que jazem insuspeitas no fundo do mar do quotidiano.

 

J.A.R. – H.C.

 

O Bote dos Poetas

(Donald Langosy: artista norte-americano)

 

Motivo de Poesia

 

Rabindranath desmonta o tempo de Anabel,

onde Poe ressuscita auroras de lirismo,

“e os espíritos maus da noite morta riam”

na sombra encarcerada e fria de Oscar Wilde.

 

Que é que Mallarmé prepara nas palavras

se não a poesia sempre trabalhada

“Este encanto criou corpo e alma e dispersou”

a luz prostrada nas vigílias de Rimbaud.

 

É certa a anunciação da amada e espera Rilke

que seu jogo de amar amante se recante

sem que Augusto dos Anjos entorne o ouro amargo.

 

A brisa recompõe as tendas de Garcia

Lorca, e já no dealbar retoma Maiacovsky

deixando uma canção à margem dos trigais.

 

Encontro de dois poetas num jardim à noite

(Donald Langosy: artista norte-americano)

 

Referência:

 

UCHÔA, Fernando Jorge. Motivo de poesia. In: __________. Alvorada inquieta. São Paulo, SP: Editora do Escritor; Luz e Silva Editor, 1986. p. 14.

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