Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Eugenio Montale - Não nos peças a palavra que acerte cada lado

Para Montale, as palavras não são capazes de esclarecer o que seja a realidade, tampouco revelar os seus profusos segredos: a única coisa que podem fazer é prover “alguma sílaba torcida e seca como um ramo”; daí a impotência da poesia, mesmo a daquela escrita por grandes poetas que o século XX testemunhou.

 

Os poetas contemporâneos somente podem falar por meio de discursos denegatórios, vale dizer, dizem o que não são e o que não querem, numa demonstração indiciária do mal-estar por que passa a sociedade hodierna, do incômodo existencial impeditivo para quaisquer mensagens afirmativas, afiançadoras, de apreço pela verdade.

 

J.A.R. – H.C.

 

Eugenio Montale

(1896-1981)

 

Non chiederci la parola che squadri da ogni lato

 

Non chiederci la parola che squadri da ogni lato

l’animo nostro informe, e a lettere di fuoco

lo dichiari e risplenda come un croco

Perduto in mezzo a un polveroso prato.

 

Ah l’uomo che se ne va sicuro,

agli altri ed a se stesso amico,

e l’ombra sua non cura che la canicola

stampa sopra uno scalcinato muro!

 

Non domandarci la formula che mondi possa aprirti

sì qualche storta sillaba e secca come un ramo.

Codesto solo oggi possiamo dirti,

ciò che non siamo, ciò che non vogliamo.

 

Agosto

(Steve Anderson: pintor norte-americano)

 

Não nos peças a palavra que acerte cada lado

 

Não nos peças a palavra que acerte cada lado

de nosso ânimo informe, e com letras de fogo

o aclare e resplandeça como açaflor

perdido em meio de poeirento prado.

 

Ah o homem que lá se vai seguro,

dos outros e de si próprio amigo,

e sua sombra descura que a canícula

estampa num escalavrado muro!

 

Não nos peças a fórmula que possa abrir mundos,

e sim alguma sílaba torcida e seca como um ramo.

Hoje apenas podemos dizer-te

o que não somos, o que não queremos.

 

Referência:

 

MONTALE, Eugenio. Non chiederci la parola che squadri da ogni lato / Não nos peças a palavra que acerte cada lado. Tradução de Renato Xavier. In: __________. Ossos de sépia: 1920-1927. Prefácio, tradução e notas de Renato Xavier. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2011. Em italiano: p. 64; em português: p. 65. (Edição Comemorativa)

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