Para Montale, as
palavras não são capazes de esclarecer o que seja a realidade, tampouco revelar
os seus profusos segredos: a única coisa que podem fazer é prover “alguma
sílaba torcida e seca como um ramo”; daí a impotência da poesia, mesmo a daquela
escrita por grandes poetas que o século XX testemunhou.
Os poetas contemporâneos somente podem falar por meio de discursos
denegatórios, vale dizer, dizem o que não são e o que não querem, numa
demonstração indiciária do mal-estar por que passa a sociedade hodierna, do
incômodo existencial impeditivo para quaisquer mensagens afirmativas, afiançadoras,
de apreço pela verdade.
J.A.R. – H.C.
Eugenio Montale
(1896-1981)
Non chiederci la
parola che squadri da ogni lato
Non chiederci la
parola che squadri da ogni lato
l’animo nostro
informe, e a lettere di fuoco
lo dichiari e
risplenda come un croco
Perduto in mezzo a un
polveroso prato.
Ah l’uomo che se ne
va sicuro,
agli altri ed a se
stesso amico,
e l’ombra sua non
cura che la canicola
stampa sopra uno
scalcinato muro!
Non domandarci la
formula che mondi possa aprirti
sì qualche storta
sillaba e secca come un ramo.
Codesto solo oggi
possiamo dirti,
ciò che non siamo,
ciò che non vogliamo.
Agosto
(Steve Anderson: pintor
norte-americano)
Não nos peças a
palavra que acerte cada lado
Não nos peças a
palavra que acerte cada lado
de nosso ânimo
informe, e com letras de fogo
o aclare e
resplandeça como açaflor
perdido em meio de
poeirento prado.
Ah o homem que lá se
vai seguro,
dos outros e de si
próprio amigo,
e sua sombra descura
que a canícula
estampa num
escalavrado muro!
Não nos peças a
fórmula que possa abrir mundos,
e sim alguma sílaba
torcida e seca como um ramo.
Hoje apenas podemos
dizer-te
o que não somos,
o que não queremos.
Referência:
MONTALE, Eugenio. Non
chiederci la parola che squadri da ogni lato / Não nos peças a palavra que
acerte cada lado. Tradução de Renato Xavier. In: __________. Ossos de sépia:
1920-1927. Prefácio, tradução e notas de Renato Xavier. São Paulo, SP:
Companhia das Letras, 2011. Em italiano: p. 64; em português: p. 65. (Edição
Comemorativa)
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