Interrogando-se sobre
o conteúdo de seus próprios poemas – se insistentes ou não em determinados
temas ou formas –, o poeta, seja como for, visa com eles levantar o ânimo
daqueles estão na frente de batalha, lutando pela vida, tal que os dias que lhes sobrevenham tragam algum lenitivo para os seus pesares e esperanças de ventura.
De alguma forma ou de
outra, as linhas de Tierra trouxeram-me à mente aquelas tão replicadas palavras
de Brecht (1898-1956): “Há homens que lutam um dia e são bons; há outros que
lutam um ano e são melhores; há os que lutam muitos anos e são muito bons; há,
porém, os que lutam toda a vida: estes são os imprescindíveis”.
Lutas individuais, lutas
modeladoras do caráter, lutas coletivas, lutas por princípios, lutas por fins,
lutas por ideais, lutas políticas, lutas pela sobrevivência: esse é o lado mais
açulado de uma sociedade que teima em manter milhões à margem, tudo como
corolário de ideias econômicas (neo)liberais, elegantes em teoria, mas
falaciosas e deletérias no domínio da prática.
J.A.R. – H.C.
Pedro Tierra
(n. 1948)
E me interrogo...
Chego ao final do
poema
e me pergunto:
estará aí o material
proposto?
Reconheço, o suor do
corpo
talvez tenha roído
o fio do metal.
Terei garantido o
corte do verso?
Ou se perdeu a
palavra
numa rede de
lamentos?
Teus versos têm a
mesma roupagem,
dirão. Certamente,
responderei,
como os soldados em
marcha.
Possa meu poema
acender em cada um
alguma coisa além das
fogueiras
que iluminam a frente
de batalha...
(1974)
A luta da vida
(Sandip Roychowdhury:
artista indiano)
Referência:
TIERRA, Pedro. E me
interrogo... In: __________. Poemas do povo da noite. 1. ed. São Paulo,
SP: Editorial Livramento, abr. 1979. p. 57.
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