Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Jayanta Mahapatra - Sânscrito

O imaginário do poeta sobre o idioma sânscrito é povoado de experiências próprias, muito difíceis de se de tornarem legíveis, ou mesmo inteligíveis, em primeira mão, a um leitor ocidental: explico-me melhor, pelo menos assim se me afiguraram os versos de Mahapatra, a ponto de algumas linhas por mim vertidas ao português expressarem mais o entendimento que tive do que nelas se registra no original em inglês, do que, talvez, houvesse pretendido o autor por meio das metáforas empregadas.

 

É que o fluir dos versos ostenta uma cadência não exatamente ilógica, senão que, manifestamente poética, acabando por acrescer camadas latentes de polissemia. Mas nada que impeça ao internauta, ao fim, poder haurir a beleza dos versos, entremeados por sugestões aos principais distintivos dos rituais e da mística indiana (ou quiçá melhor, hindu, dada a mais estreita vinculação do sânscrito ao hinduísmo), seus livros sagrados, mitos, mistérios, cânticos, mantras.

 

J.A.R. – H.C.

 

Jayanta Mahapatra

(n. 1928)

 

Sanskrit

 

Awaken them; they are knobs of sound

that seem to melt and crumple up

like some jellyfish of tropical seas,

torn from sleep with a hand lined by prophecies.

Listen hard; their male, gaunt world sprawls the page

like rows of tree trunks reeking in the smoke

of ages, the branches glazed and dead

as though longing to make up with the sky,

but having lost touch with themselves

were unable to find themselves, hold meaning.

 

And yet, down the steps into the water at Varanasi,

where the lifeless bodies seem to grow human,

the shaggy heads of word-buds move back and forth

between the harsh castanets of the rain

and the noiseless feathers of summer –

aware that their syllables’ overwhelming silence

would not escape the hearers now, and which

must remain that mysterious divine path

guarded by drifts of queer, quivering banyans:

a language of clogs over cobbles, casting

its uncertain spell, trembling sadly into mist.

 

O ciclo da vida

(Hans Canon: pintor austríaco)

 

Sânscrito

 

Ponham-se a despertá-los; são eles rebentos de som

que parecem derreter-se e crispar-se

como certas águas-vivas de mares tropicais,

arrancadas do sono por uma mão abonada de profecias.

Ponham-se a escutá-los com atenção; seu mundo masculino

e desolado estende-se pela página

como fileiras de troncos de árvores que tresandam à fumaça

das eras, os ramos hialinos e mortos

como se desejassem fazer as pazes com os céus,

mas que, tendo perdido o contato consigo próprios,

não lograram se encontrar, de manter o significado.

 

E mais ainda, descendo os degraus até as águas de Varanasi,

onde os corpos sem vida parecem tornar-se humanos,

as cabeças desgrenhadas dos brotos de palavras movem-se

de um lado a outro,

entre o inclemente castanholar da chuva

e a silenciosa plumagem de verão –

cientes de que o esmagador silêncio de suas sílabas

não escaparia agora aos ouvintes, e de que

tal misterioso e divino caminho há de continuar a ser

guarnecido por levas de estranhas e trêmulas

figueiras de Bengala:

um idioma de tamancas sobre paralelepípedos, lançando

seu incerto feitiço, tremendo pesarosamente na névoa.

 

Referência:

 

MAHAPATRA, Jayanta. Sanskrit. In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary world poetry. 1st. ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), june 1996. p. 417.

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