Alpes Literários

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Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 24 de junho de 2022

Paul Verlaine - Nevermore

Incluído entre os “Poèmes Saturniens” (“Poemas Saturnianos”), de 1866, este “pantoum” malaio, de conteúdo e forma a revelar franca influência baudelairiana, torna explícita, do mesmo modo, combinações frasais ou ideias muito caras ao norte-americano Allan Poe, a exemplo de “nevermore”, “sinos” ou “fatalidade”.

 

Consigne-se que, com o mesmo título (“Nevermore”), na mesma obra (“Poemas Saturnianos”), mantido o mesmo padrão de elegância e  de refinamento, há um outro poema de Verlaine, em forma de soneto, já aqui postado, dando razões a quem o inserta no conhecido grupo dos “poetas malditos”.

 

J.A.R. – H.C.

 

Paul Verlaine

(1844-1896)

 

Nevermore

 

Allons, mon pauvre coeur, allons, mon vieux complice,

Redresse et peins à neuf tous tes arcs triomphaux;

Brûle un encens ranci sur tes autels d’or faux;

Sème de fleurs les bords béants du précipice;

Allons, mon pauvre coeur, allons, mon vieux complice!

 

Pousse à Dieu ton cantique, ô chantre rajeuni;

Entonne, orgue enroué, des Te Deum splendides;

Vieillard prématuré, mets du fard sur tes rides;

Couvre-toi de tapis mordorés, mur jauni;

Pousse à Dieu ton cantique, ô chantre rajeuni.

 

Sonnez, grelots; sonnez, clochettes; sonnez, cloches!

Car mon rêve impossible a pris corps, et je l’ai

Entre mes bras pressé: le Bonheur, cet ailé

Voyageur qui de l’Homme évite les approches,

--Sonnez, grelots; sonnez, clochettes; sonnez, cloches!

 

Le Bonheur a marché côte à côte avec moi;

Mais la FATALITÉ ne connaît point de trêve:

Le ver est dans le fruit, le réveil dans le rêve,

Et le remords est dans l’amour: telle est la loi.

– Le Bonheur a marché côte à côte avec moi.

 

O jardim florido

(Claude Monet: pintor francês)

 

Nervermore

 

Vamos, meu coração, meu velho camarada,

Aos arcos de triunfo dá novos capitéis,

Queima rançoso incenso no altar de ouropéis;

E semeia de flor o precipício e o nada;

Vamos, meu coração, meu velho camarada!

 

Ergue o cântico a Deus, chantre jovem e belo;

Teus fúlgidos Te Deum entoa, ó órgão rouco;

Ó velho prematuro, as rugas cobre um pouco;

Põe a tapeçaria, longe muro amarelo;

Ergue o cântico a Deus, chantre jovem e belo.

 

Guizos, soai! Soai, sinetas; soai, sinos!

Pois meu sonho impossível tomou corpo ao lado,

Ei-lo seguro, enfim, o Sossego, este alado

Viajor a evitar o Homem e os desatinos,

– Guizos, soai! Soai, sinetas; soai, sinos!

 

Caminhou a Ventura, de mãos dadas comigo;

Mas a FATALIDADE é perene, eu suponho;

O verme está no fruto e o despertar no sonho,

E o remorso no amor; esta é a lei e o castigo.

Caminhou a Ventura de mãos dadas comigo.

 

Referências:

 

Em Francês

 

VERLAINE, Paul. Nevermore. Disponível neste endereço. Acesso em: 12 jun. 2022.

 

Em Português

 

VERLAINE, Paul. Nevermore. Tradução de Jamil Almansur Haddad. In: __________. Passeio sentimental: poemas. Seleção, tradução, prefácio e notas de Jamil Almansur Haddad. São Paulo, SP: Círculo do Livro, 1989. p. 60.

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