Incluído entre os “Poèmes Saturniens” (“Poemas Saturnianos”), de 1866, este “pantoum” malaio, de conteúdo e forma a revelar franca influência baudelairiana, torna explícita, do mesmo modo, combinações frasais ou ideias muito caras ao norte-americano Allan Poe, a exemplo de “nevermore”, “sinos” ou “fatalidade”.
Consigne-se que, com
o mesmo título (“Nevermore”), na mesma obra (“Poemas Saturnianos”), mantido o
mesmo padrão de elegância e de refinamento,
há um outro poema de Verlaine, em forma de soneto, já aqui postado, dando razões a quem
o inserta no conhecido grupo dos “poetas malditos”.
J.A.R. – H.C.
Paul Verlaine
(1844-1896)
Nevermore
Allons, mon pauvre
coeur, allons, mon vieux complice,
Redresse et peins à
neuf tous tes arcs triomphaux;
Brûle un encens ranci
sur tes autels d’or faux;
Sème de fleurs les
bords béants du précipice;
Allons, mon pauvre
coeur, allons, mon vieux complice!
Pousse à Dieu ton
cantique, ô chantre rajeuni;
Entonne, orgue
enroué, des Te Deum splendides;
Vieillard prématuré,
mets du fard sur tes rides;
Couvre-toi de tapis
mordorés, mur jauni;
Pousse à Dieu ton
cantique, ô chantre rajeuni.
Sonnez, grelots;
sonnez, clochettes; sonnez, cloches!
Car mon rêve
impossible a pris corps, et je l’ai
Entre mes bras
pressé: le Bonheur, cet ailé
Voyageur qui de l’Homme
évite les approches,
--Sonnez, grelots;
sonnez, clochettes; sonnez, cloches!
Le Bonheur a marché
côte à côte avec moi;
Mais la FATALITÉ ne
connaît point de trêve:
Le ver est dans le
fruit, le réveil dans le rêve,
Et le remords est
dans l’amour: telle est la loi.
– Le Bonheur a marché
côte à côte avec moi.
(Claude Monet: pintor
francês)
Nervermore
Vamos, meu coração, meu
velho camarada,
Aos arcos de triunfo
dá novos capitéis,
Queima rançoso
incenso no altar de ouropéis;
E semeia de flor o
precipício e o nada;
Vamos, meu coração, meu
velho camarada!
Ergue o cântico a
Deus, chantre jovem e belo;
Teus fúlgidos Te
Deum entoa, ó órgão rouco;
Ó velho prematuro, as
rugas cobre um pouco;
Põe a tapeçaria,
longe muro amarelo;
Ergue o cântico a
Deus, chantre jovem e belo.
Guizos, soai! Soai,
sinetas; soai, sinos!
Pois meu sonho
impossível tomou corpo ao lado,
Ei-lo seguro, enfim,
o Sossego, este alado
Viajor a evitar o
Homem e os desatinos,
– Guizos, soai! Soai,
sinetas; soai, sinos!
Caminhou a Ventura,
de mãos dadas comigo;
Mas a FATALIDADE é
perene, eu suponho;
O verme está no fruto
e o despertar no sonho,
E o remorso no amor;
esta é a lei e o castigo.
Caminhou a Ventura de
mãos dadas comigo.
Referências:
Em Francês
VERLAINE, Paul. Nevermore.
Disponível neste endereço. Acesso em: 12 jun.
2022.
Em Português
VERLAINE, Paul.
Nevermore. Tradução de Jamil Almansur Haddad. In: __________. Passeio
sentimental: poemas. Seleção, tradução, prefácio e notas de Jamil Almansur
Haddad. São Paulo, SP: Círculo do Livro, 1989. p. 60.
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