Embora não se saiba,
exatamente, a frase a que diz respeito a epígrafe deste poema de MacLeish, imagino
que deva pertencer à obra “Caligramas”, de Apollinaire, pois que, pelo teor de suas
linhas, associado a atividades desenvolvidas em períodos particularmente
belicosos, acaba por se concatenar, de algum modo, ao subtítulo “Poemas da paz
e da guerra: 1913-1916”.
Seja dito de passagem
que é de Apollinaire uma frase bastante controvertida: “Ai, meu Deus! Como é
bonita a guerra!”. Talvez porque a guerra confira um sentido de urgência
àqueles que nela estão envolvidos, uma sensação de que tudo pode findar de uma
hora para outra, de se estar tão inseguro quanto com a espada de Dâmocles na
iminência de seu golpe letal, tornando impostergáveis as ações a adotar em
relação ao aqui e ao agora.
J.A.R. – H.C.
Archibald MacLeish
(1892-1982)
Men
(on a phrase of
Apollinaire)
Our history is grave
noble and tragic.
We trusted the look
of the sun on the green leaves.
We built our towns of
stone with enduring ornaments.
We worked the hard
flint for basins of water.
We believed in the
feel of the earth under us.
We planted corn
grapes apple-trees rhubarb.
Nevertheless we knew
others had died.
Everything we have
done has been faithful and dangerous.
We believed in the
promises made by the brows of women.
We begot children at
night in the warm wool.
We comforted those
who wept in fear on our shoulders.
Those who comforted
us had themselves vanished.
We fought at the
dikes in the bright sun for the pride of it.
We beat drums and
marched with music and laughter.
We were drunk and lay
with our fine dreams in the straw.
We saw the stars
through the hair of lewd women.
Our history is grave
noble and tragic.
Many of us have died
and are not remembered.
Many cities are gone
and their channels broken.
We have lived a long
time in this land and with honor.
In: “New Found Land”
(1930)
Uma batalha de
cavalaria
(Salvator Rosa:
pintor italiano)
Homens
(sobre uma frase de
Apollinaire)
Nossa história é
grave, nobre e trágica.
Confiamos na
aparência do sol sobre as folhas verdes.
Construímos nossas
cidades de pedra com ornamentos perduráveis.
Trabalhamos o duro
pedernal para obter gamelas de água.
Acreditamos na
sensação da terra sob nossos pés.
Plantamos milharais,
videiras, macieiras, rizomas de ruibarbos.
Ainda que soubéssemos
que outros haviam morrido.
Tudo quanto fizemos
foi íntegro e arriscado.
Acreditamos nas
promessas feitas pelas frentes das mulheres.
Geramos crianças
durante a noite envoltos na lã quente.
Confortamos em nossos
ombros aqueles que choravam de medo.
Aqueles que nos
confortavam haviam desaparecido.
Lutamos nas
trincheiras, sob o sol brilhante, pelo orgulho de o fazer.
Tocamos tambores e
marchamos entre músicas e risadas.
Embriagamo-nos e recostamo-nos
com nossos belos sonhos sobre
a palha.
Vimos as estrelas
através dos cabelos de lascivas mulheres.
Nossa história é
grave, nobre e trágica.
Muitos de nós já morreram
e jazem esquecidos.
Muitas cidades
desapareceram e seus canais foram destroçados.
Vivemos por muito
tempo nesta terra e com honra.
Em: “Terra Nova”
(1930)
Referência:
Macleish, Archibald.
Men. In: Collected poems: 1917-1952. Boston, MA: The Riverside Press
Cambridge / Houghton Mifflin Company, 1952. p. 60.
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