Até pelo título, o
poema de Behr dialoga em franca intertextualidade com os versos do já hoje
clássico “E agora, José?”, de Drummond, sendo que, em específico, o poeta mato-grossense
indaga à capital federal o que haveria de levar a cabo, porque o mais comum dos seus Josés cogita, como muitos, em ir embora de Brasília – uma urbe em
situação-limite, que, para línguas ferinas, teria o aeroporto como o seu melhor
destino. (rs)
Mas, claro, Brasília já
hoje é uma das maiores metrópoles do Brasil, com suficiente energia autônoma
para se poder usufruir de qualidade de vida, embora os seus preços estejam, em
média, acima dos do país. O aeroporto, de qualquer modo, mantém-se franco para
quem se dispuser a vagar pelo mundo, explico-me melhor, é um dos melhores ‘hubs’ para os que pretendem jornadear
pelas terras de Pindorama ou pelo estrangeiro.
J.A.R. – H.C.
Nicolas Behr
(n. 1958)
Drummond Brasiliensis
Brasília, e agora?
com o avião na pista,
quer levantar voo,
não existe voo...
quer se afogar no
lago
mas o lago secou...
quer falar com o
presidente
mas este viajou...
quer se esconder no
cerrado,
o cerrado acabou...
quer ir pra Goiás,
Goiás não há mais...
Brasília, e agora?
Brasília:
Catedral e os Quatro
Evangelistas
(Carlos Bracher:
pintor mineiro)
Referência:
BEHR, Nicolas.
Drummond brasiliensis. In: __________. Poesília: pau-brasília. Brasília,
DF: Teixeira Editora, 2010. p. 25.
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