Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 3 de junho de 2022

W. B. Yeats - O prazer do difícil

Vertido ao português em quinze versos (contra os treze do original), este “quase soneto” – aqui pela falta, ali pela sobra de um verso – revela a intenção de Yeats em se distanciar do teatro, uma arte deveras exaustiva, e retomar as rédeas de seu criativo “potro” – alusão à poesia –, com naturalidade, alegria e liberdade espontâneas.

 

De qualquer modo, ao capitalizar mudanças em direção ao Modernismo, quer como dramaturgo – uma ambição pela qual porfiou para consumar um alentado sonho – quer como poeta, Yeats ainda hoje se mantém no Olimpo literário, como se Pégaso, de fato, o houvesse transportado aos domínios da imortalidade artística.

 

J.A.R. – H.C.

 

W. B. Yeats

(1865-1939)

 

The fascination of what’s difficult

 

The fascination of what’s difficult

Has dried the sap out of my veins, and rent

Spontaneous joy and natural content

Out of my heart. There’s something ails our colt

That must, as if it had not holy blood

Nor on Olympus leaped from cloud to cloud,

Shiver under the lash, strain, sweat and jolt

As though it dragged road metal. My curse on plays

That have to be set up in fifty ways,

On the day’s war with every knave and dolt,

Theatre business, management of men.

I swear before the dawn comes round again

I’ll find the stable and pull out the bolt.

 

Profundo

(Mario Sanchez Nevado: artista espanhol)

 

O prazer do difícil

 

O prazer do difícil tem secado

A seiva em minhas veias. A alegria

Espontânea se foi. O fogo esfria

No coração. Algo mantém cerceado

Meu potro, como se o divino passo

Já não lembrasse o Olimpo, a asa, o espaço,

Sob o chicote, trêmulo, prostrado,

E carregasse pedras. Diabos levem

As peças de sucesso que se escrevem

Com cinquenta montagens e cenários,

O mundo de patifes e de otários,

E a guerra cotidiana com seu gado,

Afazer de teatro, afã de gente.

Juro que antes que a aurora se apresente

Eu descubro a cancela e abro o cadeado.

 

Referência:

 

YEATS, W. B. The fascination of what’s difficult / O prazer do difícil. Tradução de Augusto de Campos. In: CAMPOS, Augusto (Seleção, organização e tradução). Poesia da recusa. São Paulo, SP: Perspectiva, 2006. Em inglês: p. 180; em português: p. 181. (Coleção ‘Signos’; n. 42)

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