Vertido ao português
em quinze versos (contra os treze do original), este “quase soneto” – aqui pela
falta, ali pela sobra de um verso – revela a intenção de Yeats em se distanciar
do teatro, uma arte deveras exaustiva, e retomar as rédeas de seu criativo “potro”
– alusão à poesia –, com naturalidade, alegria e liberdade espontâneas.
De qualquer modo, ao capitalizar
mudanças em direção ao Modernismo, quer como dramaturgo – uma ambição pela qual
porfiou para consumar um alentado sonho – quer como poeta, Yeats ainda hoje se
mantém no Olimpo literário, como se Pégaso, de fato, o houvesse transportado
aos domínios da imortalidade artística.
J.A.R. – H.C.
W. B. Yeats
(1865-1939)
The fascination of
what’s difficult
The fascination of
what’s difficult
Has dried the sap out
of my veins, and rent
Spontaneous joy and natural
content
Out of my heart.
There’s something ails our colt
That must, as if it
had not holy blood
Nor on Olympus leaped
from cloud to cloud,
Shiver under the
lash, strain, sweat and jolt
As though it dragged
road metal. My curse on plays
That have to be set
up in fifty ways,
On the day’s war with
every knave and dolt,
Theatre business,
management of men.
I swear before the
dawn comes round again
I’ll find the stable
and pull out the bolt.
Profundo
(Mario Sanchez Nevado:
artista espanhol)
O prazer do difícil
O prazer do difícil
tem secado
A seiva em minhas
veias. A alegria
Espontânea se foi. O
fogo esfria
No coração. Algo
mantém cerceado
Meu potro, como se o
divino passo
Já não lembrasse o
Olimpo, a asa, o espaço,
Sob o chicote,
trêmulo, prostrado,
E carregasse pedras.
Diabos levem
As peças de sucesso
que se escrevem
Com cinquenta
montagens e cenários,
O mundo de patifes e
de otários,
E a guerra cotidiana
com seu gado,
Afazer de teatro, afã
de gente.
Juro que antes que a aurora
se apresente
Eu descubro a cancela
e abro o cadeado.
Referência:
YEATS, W. B. The
fascination of what’s difficult / O prazer do difícil. Tradução de Augusto de
Campos. In: CAMPOS, Augusto (Seleção, organização e tradução). Poesia da
recusa. São Paulo, SP: Perspectiva, 2006. Em inglês: p. 180; em português:
p. 181. (Coleção ‘Signos’; n. 42)
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