Dedicado pelo ente
lírico a algum leitor, familiar ou amigo, estas linhas, a julgar pela epígrafe,
diz respeito a uma antologia de Rilke muito provavelmente não vertida ao português
pelo próprio José Bento – mais afeito a traduções do parnaso espanhol –, senão,
quiçá, por Paulo Quintela, este, sim, mais conhecido por suas traduções de
autores de língua alemã.
Pelo teor da segunda
estância, tem-se o destinatário do poema como um homem também dedicado à escrita,
às letras, a quem o profundo lastro poético da obra de Rilke – “sono abissal entre
pétalas perenes” –, espera o falante poder acompanhá-lo “para além da morte”.
J.A.R. – H.C.
José Bento
(1932-2019)
O escrito aqui
Ao oferecer uma
antologia
de Rainer Maria Rilke
O escrito aqui nada
te será se o repetires:
canto ou silêncio de
uma vida alheia,
aprendizagem de uma consumação
já colhida por quem a
sazonou,
– sono abissal entre
pétalas perenes.
Mas destas palavras
sorverás
o sopro que vibre
quanto escrevas,
uma presença
tenebrosa
que desde o teu
sangue te ilumine,
um caminhar vacilante
pela mão
cálida, translúcida
que te acompanhe para
além da morte.
Flores
(Diego Valentín Díaz:
pintor espanhol)
Referência:
BENTO, José. O
escrito aqui. In: __________. Algunas sílabas: antologia. Edición
bilingüe: portugués x español. Traducción de José Luis Puerto. Madrid, ES:
Calambur (en coedición con la Editora Regional de Extremadura), 2000. p. 35.
(Colección ‘Los Solitarios y sus Amigos’; n. 6)
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