Empregando, em sua lírica,
imagens extraídas diretamente ao mundo natural – estrelas, flores, jardim –, plenas
de uma “linguagem” bela e harmônica, o poeta antagoniza o seu campo de atuação
ao de um governante, com o poder de mando para fazer cumprir as suas vontades,
mesmo as mais vis – como a de pôr fim à vida de quem lhe imponha contraditas.
Percebe-se uma espécie
de confrontação entre as “leis estatais” e as “leis da natureza”, estas últimas
mais conformes à passagem inexorável do tempo, porque exoneradas de um
cumprimento ético, punindo de outro modo todos aqueles que ultrapassam as
balizas de seus direitos à custa dos de outrem.
J.A.R. – H.C.
Vielimir Khlébnikov
(1885-1922)
Отказ
Мне гораздо приятнее
Смотреть на звезды,
Чем подписывать
Смертный приговор.
Мне гораздо приятнее
Слушать голоса цветов,
Шепчущих: “Это он!” –
Склоняя головку,
Когда я прохожу по саду,
Чем видеть темные ружья
Стражи, убивающей
Тех, кто хочет
Меня убить.
Вот почему я никогда,
Нет, никогда не буду Правителем!
1922
Sob as estrelas
(Edvard Munch: pintor
norueguês)
Recusa
Agrada-me bem mais
Olhar estrelas
Do que assinar
sentenças
De morte.
Agrada-me bem mais
ouvir a voz das flores
Que, murmurando é
ele,
Meneiam as corolas
Quando o jardim
Do que ver os escuros
Fuzis da guarda
matarem quantos querem
Matar-me –
Por isso não serei
– jamais – um
governante.
1922
Referências:
Em Russo
ХЛЕБНИКОВ, Велимир. Отказ. Disponível neste
endereço. Acesso em: 29 mai. 2022.
Em Português
KHLÉBNIKOV, Vielimir. Recusa. Tradução de Boris Schanaiderman. In: PITHON,
Mariana; CAMPOS, Nathalia (Orgs.). Poemas russos. Belo Horizonte, MG:
FALE/UFMG, 2011. p. 35. Disponível neste
endereço. Acesso em: 29 mai. 2022.
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