Este poema da poetisa
sueco-dinamarquesa é um lídimo panegírico à beleza, passível de ser encontrada
em todo lugar, no passado e no futuro, como diz a voz lírica – e, claro, no
presente, como se poderia complementar: beleza natural, beleza das criações humanas,
beleza da palavra, beleza sublime, beleza perene, beleza precária, beleza plasmada
na alegria e na dor.
Bastante comum é o recurso
dos artistas à emoção engendrada pela beleza, procurando despertá-la em associação
com a verdade, para, com isso, aguçar certo compromisso com o perdurável: não mero
esteticismo gratuito, senão a mais legítima manifestação da grandeza de
espírito, de brilho tenaz a fulminar as trevas.
J.A.R. – H.C.
Maria Wine
(1912-2003)
Det finns skönhet
inom allt
kring allt
i det närvarande
i det frånvarande
skönheten är
evighetens blåa fågel
den har vingar
av is och snö
av regn och grönska
av sol och mörker
den droppar violer i
stenens hjärta
bränner svarta kors i
ögats sorg
växer som höga
cypresser i mannens drömmar
genomtränger smärtans
tunnel
med flöjtens ljus
den är en ung flicka
med korsvägens
klöverblomma vid sin fot
skönheten:
munnens slutna blomma
kyssens röda djup
lemmarnas
omslingrande vattenlinjer
ditt bål
mitt bål
närt av nattens
vilsna rosor
skönheten är den
blindas dröm om ljuset
blixten i det jagade
rådjurets öga
den är morgonens
jungfru
som spinner sitt
nystan av guld
ett segel åt
svanornas pilformade båt
den är vinden som
rider dagens hästar
till kvällarnas
svarta ängar
(skönheten kan du
plocka i bergets grotta
där stjärnorna är
gröna
och månen en svart
sten)
skönheten är handens
fem poem
nackens svanbugning
för sorgen
den är djupets blåa
fot
på vandring uppåt
eller nedåt
i avskedets stund är
den en vagn
som flyr med
bakåtlutat hår
smyckat av soliga
minnen
i det frånvarande
i det närvarande
kring allt
inom allt
kan du finna
skönheten
Av: “Född med svarta
segel” (1950)
Uma beldade veneziana
(Eugene de Blaas:
pintor italiano)
Beleza
Em tudo há beleza
tudo envolvendo
no presente
no passado
a beleza é o pássaro
azul da eternidade
que asas tem
de gelo e de neve
de chuva e verdor
de sol e trevas
que goteja violetas
no coração da pedra
queima cruzes negras
na tristeza dos olhos
cresce como altos
ciprestes nos sonhos do homem
penetra no túnel da
dor
com a luz da flauta
e uma donzela
com o trevo das
encruzilhadas aos pés
beleza:
cerrada flor da boca
profundez rubra do
beijo
aquáteis lilases
ondeantes dos membros
teu torso
meu torso
sustentados pelas
rosas perdidas da noite
a beleza é o sonho de
luz do cego
o relampejo nos olhos
do corço perseguido
é a virgem da manhã
que fia seu novelo de
oiro
uma vela para o barco
em flecha do cisne
é o vento que
cavaleiro conduz os cavalos do dia
para os negros prados
da noite
(a beleza podes
colhê-la em grutas na serra
onde são verdes as
estrelas
e a lua pedra negra)
a beleza é os cinco
poemas da mão
como do cisne a
curvatura da nuca perante a dor
é o fundo azul do
abismo
para cima ou para
baixo vagueando
na hora da despedida
é uma carruagem
que parte com o
cabelo lançado para trás
ornado de recordações
de sol
no passado
no presente
tudo envolvendo
em tudo
podes encontrar
beleza
Em: “Nascida com
velas negras” (1950)
Referências:
Em Sueco
WINE, Maria. Skönheten.
Disponível neste endereço. Acesso em: 20 jun.
2022.
Em Português
WINE, Maria. Beleza. Tradução
de Silva Duarte. In: DUARTE, Silva (Seleção e tradução). Cinco poetas suecos
(II): antologia em versão direta. Barcelos, PT: Companhia Editora do Minho,
jul. 1981. p. 21-22.
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