Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 11 de junho de 2022

Guilherme de Almeida - II – Cubismo

Considerando a longa série de pinturas tendo a figura dos arlequins como tema, torna-se difícil precisar qual a específica tela de Picasso – já avançado em sua proposta cubista – na qual se estribou Almeida para redigir este poema em quatro sextilhas rimadas ao estilo trovadoresco, com sílabas poéticas em dobro, nos primeiros e terceiros versos, em relação aos demais.

 

Em minhas investigações pela internet, a obra que mais se aproxima às palavras do poeta é a que ilustra esta postagem. De todo modo, não sou capaz de afirmar, peremptoriamente, de que Almeida estivesse transmutando em palavras as imagens de uma reprodução de obra do pintor espanhol ou de qualquer outro do mesmo movimento artístico, ou por outra, não há como se afastar a hipótese de que o poema seja o resultado de um estreme exercício de imaginação do poeta.

 

J.A.R. – H.C.

 

Guilherme de Almeida

(1890-1969)

 

II – Cubismo

 

Um Arlequim feito de cubos

equilibrados:

trinta losangos arranjados

sobre dois tubos.

– Ele talvez

jogue xadrez...

 

No halo, que a lâmpada tranquila

rasga, de cima,

esse Arlequim de pantomima

oscila, oscila,

e vem... e vai...

e quase cai...

 

Mas entra alguém: é uma silhueta

que espia e passa.

Seu riso é um fruto sob a graça

da mosca preta

– É uma mulher

como qualquer...

 

Um gesto só lânguido e doce:

e, num instante,

Dom Arlequim, o petulante,

esfarelou-se...

– Todo Arlequim

é mesmo assim...

 

Arlequim segurando uma garrafa e mulher

(Pablo Picasso: pintor espanhol)

 

Referência:

 

ALMEIDA, Guilherme de. II – Cubismo. In: __________. Os melhores poemas de Guilherme de Almeida. Seleção de Carlos Vogt. 2. ed. São Paulo, SP: Global, 2001. p. 53. (‘Os melhores poemas’; v. 28)

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