Considerando a longa
série de pinturas tendo a figura dos arlequins como tema, torna-se difícil
precisar qual a específica tela de Picasso – já avançado em sua proposta cubista
– na qual se estribou Almeida para redigir este poema em quatro sextilhas
rimadas ao estilo trovadoresco, com sílabas poéticas em dobro, nos primeiros e
terceiros versos, em relação aos demais.
Em minhas investigações
pela internet, a obra que mais se aproxima às palavras do poeta é a que ilustra
esta postagem. De todo modo, não sou capaz de afirmar, peremptoriamente, de que
Almeida estivesse transmutando em palavras as imagens de uma reprodução de obra
do pintor espanhol ou de qualquer outro do mesmo movimento artístico, ou por
outra, não há como se afastar a hipótese de que o poema seja o resultado de um estreme
exercício de imaginação do poeta.
J.A.R. – H.C.
Guilherme de Almeida
(1890-1969)
II – Cubismo
Um Arlequim feito de
cubos
equilibrados:
trinta losangos
arranjados
sobre dois tubos.
– Ele talvez
jogue xadrez...
No halo, que a
lâmpada tranquila
rasga, de cima,
esse Arlequim de
pantomima
oscila, oscila,
e vem... e vai...
e quase cai...
Mas entra alguém: é
uma silhueta
que espia e passa.
Seu riso é um fruto
sob a graça
da mosca preta
– É uma mulher
como qualquer...
Um gesto só lânguido
e doce:
e, num instante,
Dom Arlequim, o
petulante,
esfarelou-se...
– Todo Arlequim
é mesmo assim...
Arlequim segurando
uma garrafa e mulher
(Pablo Picasso:
pintor espanhol)
Referência:
ALMEIDA, Guilherme
de. II – Cubismo. In: __________. Os melhores poemas de Guilherme de Almeida.
Seleção de Carlos Vogt. 2. ed. São Paulo, SP: Global, 2001. p. 53. (‘Os
melhores poemas’; v. 28)
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