O falante se vê
imerso em fantasmagorias, num pátio de castelo invulnerável de onde pretende
sair de qualquer modo, mas que, ao fim, inúteis resultam seus esforços, físicos
ou mentais, permanecendo ele insone e banhado pela luz da lua: não há fuga
sequer por meio do sonho e o ente lírico há de suportar o medo, a febre, a
angústia e mesmo o risco de morte.
A esse “pesadelo” suscitado
pelo castelo – verdadeiro arquétipo do mal – não se propõem saídas, antes,
declara-se desde logo que “não há escapatórias”, tanto assim que o cenário se destaca
bem mais vinculado ao conteúdo psicológico que ao cronológico do tempo, denotando
desse modo um padecimento do autor que, se não é físico, tende a ser espiritual.
J.A.R. – H.C.
Robert Graves
(1895-1985)
The Castle
Walls, mounds,
enclosing corrugations
Of darkness,
moonlight on dry grass.
Walking this
courtyard, sleepless, in fever;
Planning to use – but
by definition
There’s no way out,
no way out –
Rope ladders, baulks
of timber, pulleys,
A rocket whizzing
over the walls and moat –
Machines easy to
improvise.
No escape.
No such thing; to
dream of new dimensions,
Cheating checkmate by
painting the king’s robe
So that he slides
like a queen;
Or to cry, ‘Nightmare,
nightmare!’
Like a corpse in the
cholera-pit
Under a load of
corpses;
Or to run the head
against these blind walls,
Enter the dungeon,
torment the eyes
With apparitions
chained two and two,
And go frantic with
fear –
To die and wake up
sweating by moonlight
In the same
courtyard, sleepless as before.
Uma vista do castelo
de Doorwerth
(Cornelis Kuypers:
pintor holandês)
O Castelo
Muros, montes, delimitando
corrugações
Da escuridão, luar
sobre a relva seca.
Caminhando por este
pátio, insone, com febre;
Planejando utilizar –
embora por definição
Não haja saída, nenhuma
saída –
Escadas de corda, andaimes,
roldanas,
Um rojão a zunir
sobre as paredes e o fosso –
Máquinas fáceis de
improvisar.
Nenhum ponto de fuga.
Nada que se lhe
pareça; sonhar com novas dimensões,
Trapacear com o
xeque-mate pintando o manto do rei
Para que possa se
arrastar como uma rainha;
Gritar ‘Pesadelo,
pesadelo!’,
Como um cadáver na
fossa do cólera
Sob uma carga de
cadáveres;
Ou apontar a cabeça contra
esses muros cegos;
Entrar na masmorra,
atormentar os olhos
Com fantasmas
acorrentados aos pares,
E ficar frenético de
medo –
Morrer e acordar suando
ao luar
No mesmo pátio,
insone como antes.
Referência:
GRAVES, Robert. The
castle. In: __________. Collected poems. New York, NY: Anchor Books,
1966. p. 51.
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