Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 25 de junho de 2022

Robert Graves - O Castelo

O falante se vê imerso em fantasmagorias, num pátio de castelo invulnerável de onde pretende sair de qualquer modo, mas que, ao fim, inúteis resultam seus esforços, físicos ou mentais, permanecendo ele insone e banhado pela luz da lua: não há fuga sequer por meio do sonho e o ente lírico há de suportar o medo, a febre, a angústia e mesmo o risco de morte.

 

A esse “pesadelo” suscitado pelo castelo – verdadeiro arquétipo do mal – não se propõem saídas, antes, declara-se desde logo que “não há escapatórias”, tanto assim que o cenário se destaca bem mais vinculado ao conteúdo psicológico que ao cronológico do tempo, denotando desse modo um padecimento do autor que, se não é físico, tende a ser espiritual.

 

J.A.R. – H.C.

 

Robert Graves

(1895-1985)

 

The Castle

 

Walls, mounds, enclosing corrugations

Of darkness, moonlight on dry grass.

Walking this courtyard, sleepless, in fever;

Planning to use – but by definition

There’s no way out, no way out –

Rope ladders, baulks of timber, pulleys,

A rocket whizzing over the walls and moat –

Machines easy to improvise.

No escape.

No such thing; to dream of new dimensions,

Cheating checkmate by painting the king’s robe

So that he slides like a queen;

Or to cry, ‘Nightmare, nightmare!’

Like a corpse in the cholera-pit

Under a load of corpses;

Or to run the head against these blind walls,

Enter the dungeon, torment the eyes

With apparitions chained two and two,

And go frantic with fear –

To die and wake up sweating by moonlight

In the same courtyard, sleepless as before.

 

Uma vista do castelo de Doorwerth

(Cornelis Kuypers: pintor holandês)

 

O Castelo

 

Muros, montes, delimitando corrugações

Da escuridão, luar sobre a relva seca.

Caminhando por este pátio, insone, com febre;

Planejando utilizar – embora por definição

Não haja saída, nenhuma saída –

Escadas de corda, andaimes, roldanas,

Um rojão a zunir sobre as paredes e o fosso –

Máquinas fáceis de improvisar.

Nenhum ponto de fuga.

Nada que se lhe pareça; sonhar com novas dimensões,

Trapacear com o xeque-mate pintando o manto do rei

Para que possa se arrastar como uma rainha;

Gritar ‘Pesadelo, pesadelo!’,

Como um cadáver na fossa do cólera

Sob uma carga de cadáveres;

Ou apontar a cabeça contra esses muros cegos;

Entrar na masmorra, atormentar os olhos

Com fantasmas acorrentados aos pares,

E ficar frenético de medo –

Morrer e acordar suando ao luar

No mesmo pátio, insone como antes.

 

Referência:

 

GRAVES, Robert. The castle. In: __________. Collected poems. New York, NY: Anchor Books, 1966. p. 51.

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