Mesmo os anelos por potencial
escrita de um poema podem se tornar poemas: a prova aqui está! Material como a
do similar “Poesia”
de Drummond. Se o poema não vem de uma forma, vem por outra, como rio em cujas
águas se refletem as elucubrações do poeta (no caso, da poetisa curitibana),
acerca de seu próprio ofício.
Ainda que se centre o
exame dos versos no refluir da anáfora “queria tanto”, não há que se descuidar que
as próprias linhas já se encontram permeadas pela cobiçada poesia, porque mesmo
a distância a um ponto definido no tempo ou no espaço, em relação a um dado propósito
estético, já comporta suficientes linhas de força impregnadas pela beleza.
J.A.R. – H.C.
Alice Ruiz
(n. 1946)
queria tanto
queria tanto
fazer um poema hoje
uma canção que fosse
digna desse dia
com suas cores
brilhos e brisas
queria tanto
que esse poema me quisesse
e me fizesse um mimo
me desfazendo em
risos
queria tanto
esse dia em versos
meu coração
deste bem diverso
para sempre
conservado
em seu próprio
encanto
Em: “Vice versos”
(1988)
Desejo II
(Rajasekharan
Parameswaran: artista indiano)
Referência:
RUIZ S., Alice.
queria tanto. In: __________. Dois em um. 1. reimp. São Paulo, SP:
Iluminuras, 2008. p. 37.
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