Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 4 de junho de 2022

Philip Larkin - Grama Cortada

Mesmo em meio à beleza, a morte sobrevém na natureza, como que a ratificar a implacável transitoriedade de tudo quanto vive: o poeta captura o encanto que evola de um dia de junho, no momento mesmo em que fenecimento e exuberância revelam-se lado a lado, desvelando o quanto há de mais contingente na realidade.

 

O movimento da nuvem no firmamento metaforiza a roda perecível das criaturas que se debatem contra o inelutável, mas também a regeneração periódica proporcionada pelas estações do ano. Em outros termos, apoteose ou epifania em sequência a tormentas ou tribulações, tal como se divisa – guardadas as proporções – no ciclo do ‘samsara’.

 

J.A.R. – H.C.

 

Philip Larkin

(1922-1985)

 

Cut Grass

 

Cut grass lies frail:

Brief is the breath

Mown stalks exhale.

Long, long the death

 

It dies in the white hours

Of young-leafed June

With chestnut flowers,

With hedges snowlike strewn,

 

White lilac bowed,

Lost lanes of Queen Anne’s lace,

And that high-builded cloud

Moving at summer’s pace.

 

A segadura

(Autor Desconhecido)

 

Grama Cortada

 

Revela-se frágil a grama cortada:

Breve é o eflúvio

A exalar dos talos ceifados.

Longa, longa a morte

 

A expirar nas horas brancas

De um junho de tenra folhagem

Com flores de castanheiro,

Com sebes juncadas feito neve,

 

Níveos lilases arqueados,

Aleias perdidas de cerefólios,

E essa nuvem espessa

Movendo-se ao ritmo do verão.

 

Referência:

 

LARKIN, Philip. Cut grass. In: HEANEY, Seamus; HUGHES, Ted (Eds.). The rattle bag. 1st publ. London, EN: Faber and Faber, 1982. p. 119.

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