Mesmo em meio à
beleza, a morte sobrevém na natureza, como que a ratificar a implacável
transitoriedade de tudo quanto vive: o poeta captura o encanto que evola de um
dia de junho, no momento mesmo em que fenecimento e exuberância revelam-se lado
a lado, desvelando o quanto há de mais contingente na realidade.
O movimento da nuvem
no firmamento metaforiza a roda perecível das criaturas que se debatem contra o
inelutável, mas também a regeneração periódica proporcionada pelas estações do
ano. Em outros termos, apoteose ou epifania em sequência a tormentas ou
tribulações, tal como se divisa – guardadas as proporções – no ciclo do ‘samsara’.
J.A.R. – H.C.
Philip Larkin
(1922-1985)
Cut Grass
Cut grass lies frail:
Brief is the breath
Mown stalks exhale.
Long, long the death
It dies in the white
hours
Of young-leafed June
With chestnut
flowers,
With hedges snowlike
strewn,
White lilac bowed,
Lost lanes of Queen
Anne’s lace,
And that high-builded
cloud
Moving at summer’s
pace.
A segadura
(Autor Desconhecido)
Grama Cortada
Revela-se frágil a
grama cortada:
Breve é o eflúvio
A exalar dos talos
ceifados.
Longa, longa a morte
A expirar nas horas
brancas
De um junho de tenra
folhagem
Com flores de
castanheiro,
Com sebes juncadas
feito neve,
Níveos lilases arqueados,
Aleias perdidas de
cerefólios,
E essa nuvem espessa
Movendo-se ao ritmo
do verão.
Referência:
LARKIN, Philip. Cut
grass. In: HEANEY, Seamus; HUGHES, Ted (Eds.). The rattle bag. 1st publ.
London, EN: Faber and Faber, 1982. p. 119.
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