A voz lírica dirige-se
ao leitor, submetendo-lhe mensagens que rompam com eventuais desesperanças suscitadas pelo tempo presente, que tragam
serenidade, equilíbrio e transparência, que tenham o poder de perdurar no tempo,
cumulando o amanhã com amor e mansuetude.
Entre anáforas,
tem-se uma proposta de um clima espiritual com estabilidade de sentimentos no
transcorrer dos anos, para que a vida reencontre a sua ordem e o seu pleno
sentido num fazer poético que lhe seja concorde, congruente, pois que a poesia não
passa de resultante de uma equação de “n” variáveis, uma das quais a própria
personalidade do autor.
J.A.R. – H.C.
Blas de Otero
(1916-1979)
Serenen
Dejo unas líneas y un
papel en blanco.
Líneas que quiero
quiebren la desesperanza.
Líneas que quiero
despejen la serenidad.
Líneas que balanceen
el reposo.
Líneas sobrias
como el pan.
Transparentes como el
agua.
Cuando me lean dentro
de treinta años,
de setenta años,
que estas líneas no
arañen los ojos,
que colmen las manos
de amor,
que serenen el
mañana.
Pastora com rebanho
(Giovanni
Sottocornola: pintor italiano)
Serenem
Deixo algumas linhas
e um papel em branco.
Linhas com que
tenciono romper a desesperança.
Linhas com que
tenciono aclarar a serenidade.
Linhas que
estabilizem o repouso.
Linhas sóbrias
como o pão.
Transparentes como a
água.
Dos que me lerem
daqui a trinta anos,
a setenta anos,
que estas linhas não
arranhem os olhos,
que cumulem as mãos
de amor,
que serenem o amanhã.
Referência:
OTERO, Blas. Serenen.
In: __________. Mediobiografía: selección de poemas biográficos. Edición
de Sabina de la Cruz y Mario Hernández. Madrid, ES: Calambur, 1997. p. 131.
(‘Poesía’; n. 8)
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