Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 28 de junho de 2022

Blas de Otero - Serenem

A voz lírica dirige-se ao leitor, submetendo-lhe mensagens que rompam com eventuais desesperanças suscitadas pelo tempo presente, que tragam serenidade, equilíbrio e transparência, que tenham o poder de perdurar no tempo, cumulando o amanhã com amor e mansuetude.

 

Entre anáforas, tem-se uma proposta de um clima espiritual com estabilidade de sentimentos no transcorrer dos anos, para que a vida reencontre a sua ordem e o seu pleno sentido num fazer poético que lhe seja concorde, congruente, pois que a poesia não passa de resultante de uma equação de “n” variáveis, uma das quais a própria personalidade do autor.

 

J.A.R. – H.C.

 

Blas de Otero

(1916-1979)

 

Serenen

 

Dejo unas líneas y un papel en blanco.

Líneas que quiero quiebren la desesperanza.

Líneas que quiero despejen la serenidad.

Líneas que balanceen el reposo.

Líneas sobrias

como el pan.

Transparentes como el agua.

Cuando me lean dentro de treinta años,

de setenta años,

que estas líneas no arañen los ojos,

que colmen las manos de amor,

que serenen el mañana.

 

Pastora com rebanho

(Giovanni Sottocornola: pintor italiano)

 

Serenem

 

Deixo algumas linhas e um papel em branco.

Linhas com que tenciono romper a desesperança.

Linhas com que tenciono aclarar a serenidade.

Linhas que estabilizem o repouso.

Linhas sóbrias

como o pão.

Transparentes como a água.

Dos que me lerem daqui a trinta anos,

a setenta anos,

que estas linhas não arranhem os olhos,

que cumulem as mãos de amor,

que serenem o amanhã.

 

Referência:

 

OTERO, Blas. Serenen. In: __________. Mediobiografía: selección de poemas biográficos. Edición de Sabina de la Cruz y Mario Hernández. Madrid, ES: Calambur, 1997. p. 131. (‘Poesía’; n. 8)

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