Percebem-se, nestas
linhas, pelo menos duas menções incidentais do poeta carioca a criações de
terceiros, nomeadamente, ao poema “A terra devastada”, de T. S. Eliot”, e ao
soneto “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, de Camões. Quanto às “três
ou quatro verdades importantes” que o vate carrega, apesar de presumivelmente rematadas
ao seu próprio alvedrio, fazem-me lembrar – já com alguma margem especulativa
de minha parte – às “Quatro nobres verdades”, de Buda.
Veem-se esmero e
acribia nos versos decassílabos e nas rimas de Alvarez, tornando o soneto, a
par das precitadas intertextualidades, um fino exemplar daquilo que, a despeito
da baliza tetradecalinear da aludida forma fixa, se pode levar a efeito com
beleza e sentido – em clara oposição a poemas de caudal verborrágico e
cansativo pelos quais se esmeram alguns poetas.
Poeta de formação
erudita e atávicos vínculos ibéricos (...), a dicção de Valinho se distingue
pelo estilo e pela pureza de linguagem às vezes lusitana, traços que, associados
ao equilíbrio formal e à reflexão filosófica, fazem dele um clássico.
Astrid Cabral
(apud RODRIGUES;
MAIA, 2001, p. 73)
J.A.R. – H.C.
Reynaldo Valinho
Alvarez
(1931-2021)
O tempo, o mundo e a
poesia: o canto
ilumina a verdade e
acende o espanto.
A Mochila
Carrego na mochila,
entre outros trastes,
três ou quatro
verdades importantes.
O resto é de
mentiras. São contrastes
que entrego às outras
partes contrastantes.
A lira não me vale.
São desastres
o que encontro nos
outros caminhantes.
Na terra devastada,
erguem-se as hastes
das lanças e dos
canos fumegantes.
A mochila me pesa. As
três verdades
ou quatro, já não
sei, não pesam tanto,
mude-se o tempo e
mudem-se as vontades.
O que me dói ou pesa,
ou o que é um espanto
é que um modesto
grama de inverdades
valha um tonel de
torpe desencanto.
Garoto no Celeiro
(Autoria Desconhecida)
Referência:
ALVAREZ, Reynaldo
Valinho. A mochila. In: RODRIGUES, Claufe; MAIA, Alexandra (Orgs.). 100 anos
de poesia: um panorama da poesia brasileira do século XX. Vol. II. Rio de
Janeiro, RJ: O Verso Edições, 2001. p. 73.
Alegria de encontrar, vivo nos versos precisos do poema, Reynaldo Valinho Alvarez. Grande poeta! Trocávamos figurinhas, vez por outra, poucas. e nunca nos encontramos... Vê-lo eternizado nesse "blog de responsa" é um prêmio que ele recebe. Valho-me dessa oportunidade e recebo por ele essa comenda. Em nome dele e em nome da poesia: Ao BLOG DO CASTORP, muito obrigado. Méritos que vão, por igual, para o brilhante leitor e editor do blog, João A. Rodrigues. (Geraldo Reis: O SER SENSÍVEL) - Belo Horizonte/MG, 18/08/2024.
ResponderExcluirPrezado Geraldo: eu que tenho a lhe agradecer pelas palavras! J. A. Rodrigues
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