Penso que a ideia desenvolvida
por Khayyám neste aforismo tem algo a convergir para o “Princípio da Economia”
(“Navalha de Ockham”), pois seria a tentativa de explicação mais simples para a
realidade do ser humano sobre a Terra, entre as múltiplas explicações para o
mesmo fato relativo ao sentido teleológico de nossa existência.
Contudo, recuso-me a
admitir tal hipótese, pois faz terra arrasada de tudo o que se passa no plano
da moral ou da ética, ou ainda, ao amparo da visão de que o Criador deixara de
optar pela possibilidade mais nobre, de um universo com liberdade, para
tornar-se um sádico capaz de se divertir com este espetáculo dantesco que se
desenrola pelos quatro cantos do planeta.
Sem assentir com tais
determinismos para explicar o mal que desborda por toda parte, e admitindo a matriz
estoica por trás deste ponto de vista, dou crédito ao poder que o próprio homem
tem para predizê-lo, avaliá-lo e erradicá-lo! Mas se assim não o fizer, que não
venha a atribuir a terceiros o suceder de suas misérias: a vontade humana como
um recurso contra as tribulações de cada dia!
J.A.R. – H.C.
Omar Khayyám
(1048-1131)
2. Somos joguetes
Somos joguetes
nas mãos do Destino.
Simples brinquedos,
à nossa custa
diverte-se o
Universo.
Joguetes
que vivem redemoinhando
ao sabor dos ventos.
Não se trata de
metáfora,
nem há exagero no que
digo:
esta é a realidade.
No passado,
ingenuamente
brincávamos
no tablado da vida.
Seremos hoje,
uns após outros,
carregados
no féretro do
não-ser.
A Sra. Deidade e seus
Joguetes
(Helen Norton:
artista australiana)
Referência:
KHAYYÁM, Omar. 2.
Somos joguetes. Tradução de Christovam de Camargo. In: __________. Rubáiyát.
Versão ao português de Christovam de Camargo baseada na interpretação literal
do texto persa feita por Ragy Basile. São Paulo, SP: Martin Claret, 2003. p. 24.
(Coleção “A Obra-Prima de Cada Autor”; v. 156)
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