Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 3 de março de 2022

Gerald Stern - Acenando Adeus

Este é o poema de um pai que sente que a sua filha promove um voo de despedida de seu ninho familiar, abandonando os velhos hábitos de conforto ou de aconchego para se ajustar a novos, deixando para trás todos aqueles que, até então, eram-lhe mais próximos, destarte já contristados e a revolver sentimentos por tão abrupta separação.

 

Stern repete a expressão “como um animal o faria”, para nos revelar que, diante das emoções que lhe embargam o espírito não haveria tanto a fazer senão agir como se fosse contemporâneo dos símios ou dos homens das cavernas, com limitados recursos para verbalização, motivo por que expressa o seu amor pela filha gestualmente, “andando em círculos, gemendo, tocando-lhe a bochecha”. Afinal, quanto maior a proximidade ou a intimidade entre as pessoas, tanto mais indeléveis as memórias e os vínculos criados!

 

J.A.R. – H.C.

 

Gerald Stern

(n. 1925)

 

Waving Goodbye

 

I wanted to know what it was like before we

had voices and before we had bare fingers and before we

had minds to move us through our actions

and tears to help us over our feelings,

so I drove my daughter through the snow to meet

her friend

and filled her car with suitcases and hugged her

as an animal would, pressing my forehead against her,

walking in circles, moaning, touching her cheek,

and turned my head after them as an animal would,

watching helplessly as they drove over the ruts,

her smiling face and her small hand just visible

over the giant pillows and coat hangers

as they made their turn into the empty highway.

 

Acenando adeus ao pai

(Bernard J. Blommers: pintor holandês)

 

Acenando Adeus

 

Gostaria de saber como era antes que

tivéssemos vozes e antes que tivéssemos dedos nus

e antes que

tivéssemos mentes para nos mover através de nossas ações

e lágrimas que nos ajudam a superar nossos sentimentos;

por isso, conduzi minha filha em meio à neve para

encontrar sua amiga

e enchi o seu carro com as malas e abracei-a

como um animal o faria, pressionando a minha fronte

contra a dela,

andando em círculos, gemendo, tocando-lhe a bochecha,

e então virei minha cabeça por trás delas como um animal o faria,

assistindo impotente enquanto dirigiam sobre os sulcos,

o seu rosto sorridente e sua pequena mão apenas visível

sobre as almofadas gigantes e os cabides,

enquanto faziam a sua curva para a estrada vazia.

 

Referência:

 

STERN, Gerald. Waving goodbye. In: KEILLOR, Garrison (Selector and Introducer). Good poems. New York, NY: Penguin Books, 2003. p. 193.

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