Em seis pequenas
seções, pejadas de intertextualidades – pelo menos três são por demais
evidentes, quais sejam, “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias, e “Poema de Sete
Faces”, de Carlos Drummond de Andrade, e o dito popular “Em terra de cego, quem
tem um olho é rei” –, o poeta carioca, radicado em Goiás, urde “definições”
sobre si próprio em meio a uma “geografia” menos física que humana, a dar conta
da “linguagem do possível”, isto é, aquela tornada praticável pelo próprio experimento
poético.
No que tange ao
título atribuído ao poema, fiquei a elucubrar sobre o que significaria o
acrônimo “N/O” nele aposto: (i) primeiramente, imaginei “Norte/Oeste”, mas como
se afirma não haver polos ou direcionalidades no “mundo” da voz lírica, presumo
que a hipótese deva ser afastada; (ii) depois, desorientado como fiquei, supus
“Nenhuma Orientação” (rs). E então me desapeguei do título, preferindo singrar
pelas graciosas volutas do poema.
J.A.R. – H.C.
Luiz Fernando
Valladares
(n. 1942)
N/O
– Definições –
I
No meu mundo
não tem polos
linha do equador
meridianos:
tem gente.
Só!
II
No meu coração
é possível que
existam
muitos sentimentos.
III
Quando nasci
nenhum anjo
apareceu
e disse para eu
ser assim
ou assado
(imediatamente um
arco-íris
espetou-se no meu olho)
e apenas me disseram:
vai!
IV
Todo mundo quer ser
rei
em sua terra.
Na minha não existe
terra
reis
ou réis.
V
No meu único olho
navega um barco
à vela
e o sabiá
cansado do voo
pousa
suas pernas
em meus quatro
ombros.
VI
A poesia
– linguagem possível!
O resto
falso
como a peruca das
línguas
a coragem
o medo.
O Desdobramento
(Ulrich Osterloh:
artista alemão)
Referência:
VALLADARES, Luiz
Fernando. N/O – definições –. In: __________. Ver de novo. Goiânia, GO:
Oriente, 1978. p. 91-02.
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