Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 27 de março de 2022

Alexander Pope - Ode à Solidão

Por trás das palavras do poeta, a comum intuição de que a paz e o silêncio são elementos indispensáveis para se conseguir estados d’alma felizes: as imagens evocadas por Pope, no entanto, são em sua maioria de um ‘modus vivendi’ pastoril e, para serem vertidas ao nosso frenético mundo citadino, necessitam de algumas “convolações”.

 

O anelo por ser reconhecido ou famoso é indiciário de uma sociedade às voltas com a indispensabilidade do sucesso, levando muitos, não tão infrequentemente, até a doença mental, caso não logrem se estabelecer perante a família, os amigos e o público em geral. Daí a importância da mensagem subjacente aos versos do poeta: dignidade e paz de espírito, anonimato e despretensão, são valores mais propensos a nos levar por sendas de equilíbrio!

 

J.A.R. – H.C.

 

Alexander Pope

(1688-1744)

(retrato por Michael Dahl)

 

Ode on Solitude

 

Happy the man, whose wish and care

A few paternal acres bound,

Content to breathe his native air

In his own ground.

 

Whose herds with milk, whose fields with bread,

Whose flocks supply him with attire,

Whose trees in summer yield him shade,

In winter fire.

 

Blest, who can unconcernedly find

Hours, days, and years slide soft away,

In health of body, peace of mind,

Quiet by day.

 

Sound sleep by night; study and ease,

Together mixed; sweet recreation:

And innocence, which most does please,

With meditation.

 

Thus let me live, unseen, unknown,

Thus unlamented let me die,

Steal from the world, and not a stone

Tell where I lie.

 

Composed c. 1700

First published 1717

 

Solidão

(Monica Piazzetta: artista italiana)

 

Ode à Solidão

 

Feliz o homem cujo desejo e zelo

Limitam-se a alguns acres paternos,

Contente por respirar o seu ar nativo

Em seu próprio solo.

 

Cujas reses lhe fornecem leite, os campos, pão,

Os rebanhos, vestimentas;

Cujas árvores no verão dão-lhe sombra,

E fogo no inverno.

 

Bendito aquele que, sem preocupar-se, pode

Ver passar horas, dias e anos, suavemente,

Com saúde física e paz mental.

Sereno em sua jornada.

 

Sono profundo durante a noite; estudo e descanso,

Entremesclados; doce lazer:

E inocência, que é o que mais compraz,

Junto à meditação.

 

Assim, deixa-me viver, sem ser visto nem conhecido,

Deixa-me morrer, assim, sem lamentos,

Arrebatado ao mundo, sem uma pedra

Sequer a revelar o meu jazigo.

 

Composto por volta de 1700

Primeira publicação em 1717

 

Referência:

 

POPE, Alexander. Ode on solitude. In: __________. Selected poetry and prose. Edited by Robin Sowerby. 1st. publ. London, EN: Routledge, 1988. p. 31. (‘Routledge English Texts’)

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