Com carinho e com
afeto, a poetisa declina as suas preleções ao leitor de poesia, indicando-lhe, em três movimentos e uma nota final, o melhor ‘lectio modus’ para abeirar-se do
poema, esse molde literário que teima em sobreviver numa “sociedade morta”, ou seria
melhor dizer, não desperta para os esplendores mágicos da mais autêntica forma de fantasia e de imaginação.
Sem deixar de discernir
as misérias presentes no quotidiano – e, em Pindorama, muito particularmente os
rastros da fome e da opressão –, o(a) poeta(isa) busca também erguer as suas pontes até
o futuro e, para as suas “profecias”, exige respeito: representam elas a utopia
necessária para se traçar uma vereda das sombras à luz, da tormenta
ao êxtase.
J.A.R. – H.C.
Amélia M. A. Alves
(n. 1946)
Roteiro de Leitura
Primeiro movimento:
o texto em puro
estado
de descoberta
vem precedido
de mil recomendações.
O poeta tenta
interferir
e pede pra ser lido
com carinho.
(O poeta e a poesia!)
Segundo movimento:
os versos se
desdobram
com textura própria
– rimas raras,
ritmo compassado e
lento,
palavras colhidas ao
relento.
(A poesia encobre o
poeta.)
Terceiro movimento:
O estilo se tece
no processo da
escritura
– cada passagem,
cada ponto,
cada vírgula
suscita atenção mais
profunda.
O poeta se
confidencia.
(O poeta ou a
poesia?)
Nota final:
o poeta exige
respeito
pelo sentimento de
estar vivo,
pela poesia sobrevivente
na sociedade morta,
apesar da fome e da
opressão.
Retrato de uma jovem
senhora
(Alfred Stevens:
pintor belga)
Referência:
ALVES, Amélia M. A. Roteiro de leitura. In: __________. 50 poemas escolhidos pelo autor: Amélia Alves. Rio de Janeiro, RJ: Edições Galo Branco, 2009. p. 48-49. (Coleção ‘50 poemas escolhidos pelo autor’; v. 49)
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