O falante dirige-se a
Deus, repassando-lhe reclamos diante das injustiças que assolam o ser humano,
dos sofrimentos a que este está exposto – e não só os do corpo, como também os
da alma –, corolário de seu jogo de dados sobre a criação, sem manifestação de
quaisquer sentimentos – possivelmente de comiseração em razão de tais provações
–, por parte da Suprema Potestade.
Tanta é a angústia
revelada por Vallejo diante dessa distinção entre a nossa natureza e a de Deus,
que acaba por mortificar-se à maneira de um condenado, revelando-lhe a
concepção pessimista e trágica da vida, muito embora, por mais paradoxal que
isso possa parecer, com o potencial para revelar o divino no próprio homem,
mediante as suas fraquezas, assim como o afirma o Apóstolo Paulo em (2 Co 12:10):
“Pois, quando sou fraco é que sou forte”!
J.A.R. – H.C.
César Vallejo
(1892-1938)
Los Dados Eternos
Para Manuel González
Prada esta emoción bravia y
selecta, una de las
que, con más entusiasmo, me ha
aplaudido el gran maestro.
Dios mío, estoy
llorando el ser que vivo;
me pesa haber
tomádote tu pan;
pero este pobre barro
pensativo
no es costra
fermentada en tu costado:
tú no tienes Marías
que se van!
Dios mío, si tú
hubieras sido hombre,
hoy supieras ser
Dios;
pero tú, que
estuviste siempre bien,
no sientes nada de tu
creación.
Y el hombre sí te
sufre: el Dios es él!
Hoy que en mis ojos
brujos hay candelas,
como en un condenado,
Dios mío, prenderás
todas tus velas,
y jugaremos con el
viejo dado...
Talvez ¡oh jugador!
al dar la suerte
del universo todo,
surgirán las ojeras
de la Muerte,
como dos ases
fúnebres de lodo.
Dios mío, y esta
noche sorda, oscura,
ya no podrás jugar,
porque la Tierra
es un dado roído y ya
redondo
a fuerza de rodar a
la aventura,
que no puede parar
sino en un hueco,
en el hueco de
inmensa sepultura.
En: “Los Heraldos
Negros” (1918)
Os Jogadores de Dados
(Georges de La Tour:
pintor francês)
Os Dados Eternos
Deus meu, estou a
chorar o ser que vivo;
pesa-me ter tomado já
teu pão;
mas este pobre barro
pensativo
não é crosta
fermentada no teu lado:
tu não possuis Marias
que se vão!
Deus meu, se tivesses
sido homem,
saberias ser Deus
hoje;
mas tu, que procedeste
sempre bem,
nada sentes da tua
criação.
E por ti o homem
sofre: o Deus é ele!
Hoje que em meus
olhos bruxos há candeias
como num condenado,
Deus meu, acenderás
as tuas velas
e jogaremos com o
velho dado...
Talvez, oh jogador!,
ao dar a sorte
do universo todo,
ante nós surjam as
olheiras da Morte
como duas asas
fúnebres de lodo.
Deus meu, e esta
noite surda, escura,
não poderás jogar,
pois toda a Terra
é um dado roído e já
redondo
por tanto ter rolado
à aventura,
e que não para a não
ser num vazio,
no vazio de uma
imensa sepultura.
Em: “Os Arautos
Negros” (1918)
Referências:
Em Espanhol
VALLEJO, César. Los
dados eternos. In: __________. Obra poética completa. Edición, prólogo y
cronología por Enrique Ballón Aguirre. 2. reimp. Caracas, VE: Biblioteca
Ayacucho, 2015. p. 41. (Colección ‘Clásica’; n. 58)
Em Português
VALLEJO, César. Los
dados eternos. Tradução de José Bento. In: __________. César Vallejo:
antologia. Selecção, tradução e prólogo de José Bento. 1. ed. Porto, PT:
Editora Limiar, nov. 1981. p. 21. (Colecção ‘Os Olhos e a Memória’; n. 16)
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