Para o dia de hoje – em
que se celebra o dia mundial da poesia –, trago-lhes este poema, perpassado por
um humor sagaz, do poeta nova-iorquino: partindo de cotejos de si próprio a
outras figuras que deixaram o seu nome gravado na História, sublinhando-lhes – digamos
assim – as falhas morais, Ogden, de fato, pretende nos acautelar sobre o quão é
insensato o jogo de ficar se comparando a outras pessoas.
Afinal, o que importa,
pelo menos no plano de seu mister com as palavras, é que o falante revele a sua
própria individualidade, mostrando plena identidade entre o seu “eu” e a forma
de sua escrita: o que nos distingue dos demais pode ser exatamente um de nossos
pontos fortes, fundamental para nos levar ao autoconhecimento, à expressão da
máxima liberdade de ação.
J.A.R. – H.C.
Ogden Nash
(1902-1971)
So that’s who I remind
me of
When I consider men
of golden talents,
I’m delighted, in my introverted
way,
To discover, as I’m
drawing up the balance,
How much we have in
common, I and they.
Like Burns, I have a
weakness for the bottle,
Like Shakespeare,
little Latin and less Greek;
I bite my fingernails
like Aristotle;
Like Thackeray, I
have a snobbish streak.
I’m afflicted with
the vanity of Byron,
I’ve inherited the
spitefulness of Pope;
Like Petrarch, I’m a
sucker for a siren,
Like Milton, I’ve a
tendency to mope.
My spelling is
suggestive of a Chaucer;
Like Johnson, well, I
do not wish to die
(I also drink my
coffee from the saucer);
And if Goldsmith was
a parrot, so am I.
Like Villon, I have
debits by the carload,
Like Swinburne, I’m
afraid I need a nurse;
By my dicing is
Christopher out-Marlowed,
And I dream as much
as Coleridge, only worse.
In comparison with
men of golden talents,
I am all a man of
talent ought to be;
I resemble every
genius in his vice, however heinous –
Yet I write so much
like me.
Sem título
(Oronzo Vito Gasparo:
artista ítalo-americano)
De fato é desses que
me lembro
Quando reflito sobre
homens de áureos talentos,
Fico encantado, à
minha maneira introvertida,
Por descobrir, à
medida restabeleço o equilíbrio,
O quanto temos em
comum, eu e eles.
Como Burns, tenho um ponto
fraco por bebida,
Sei pouco latim e grego
menos ainda, como Shakespeare;
Roo minhas unhas como
Aristóteles;
Como Thackeary, tenho
uma tendência esnobe.
Aflijo-me com a mesma
vaidade de Byron,
Herdei a animosidade
de Pope;
Como Petrarca,
sinto-me atraído por uma sereia,
Tenho tendência ao
desânimo, como Milton.
Minha ortografia é
sugestiva de um Chaucer;
Como Johnson, ora
ora, não desejo morrer
(Também bebo meu café
no pires);
E se Goldsmith parecia
um papagaio, também o sou.
Como Villon, tenho
dívidas aos montes,
Receio precisar de
uma enfermeira, como Swinburne;
Por meu vício em
jogatinas, supero Chistopher Marlowe,
E sonho tanto quanto
Coleridge, só que pior.
Ao comparar-me com
homens de áureos talentos,
Sou tudo o que um
homem de talento deve ser;
Pareço-me a todos os
gênios em seus vícios, ainda que
execráveis –
No entanto, minha
escrita muito se me assemelha.
Referência:
NASH, Ogden. So that’s
who I remind me of. In: __________. The best Ogden Nash. Edited by
Linell Nash Smith. Chicago, IL: Ivan R. Dee, 2007. p. 420.
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