Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 21 de março de 2022

Ogden Nash - De fato é desses que me lembro

Para o dia de hoje – em que se celebra o dia mundial da poesia –, trago-lhes este poema, perpassado por um humor sagaz, do poeta nova-iorquino: partindo de cotejos de si próprio a outras figuras que deixaram o seu nome gravado na História, sublinhando-lhes – digamos assim – as falhas morais, Ogden, de fato, pretende nos acautelar sobre o quão é insensato o jogo de ficar se comparando a outras pessoas.

 

Afinal, o que importa, pelo menos no plano de seu mister com as palavras, é que o falante revele a sua própria individualidade, mostrando plena identidade entre o seu “eu” e a forma de sua escrita: o que nos distingue dos demais pode ser exatamente um de nossos pontos fortes, fundamental para nos levar ao autoconhecimento, à expressão da máxima liberdade de ação.

 

J.A.R. – H.C.

 

Ogden Nash

(1902-1971)

 

So that’s who I remind me of

 

When I consider men of golden talents,

I’m delighted, in my introverted way,

To discover, as I’m drawing up the balance,

How much we have in common, I and they.

 

Like Burns, I have a weakness for the bottle,

Like Shakespeare, little Latin and less Greek;

I bite my fingernails like Aristotle;

Like Thackeray, I have a snobbish streak.

 

I’m afflicted with the vanity of Byron,

I’ve inherited the spitefulness of Pope;

Like Petrarch, I’m a sucker for a siren,

Like Milton, I’ve a tendency to mope.

 

My spelling is suggestive of a Chaucer;

Like Johnson, well, I do not wish to die

(I also drink my coffee from the saucer);

And if Goldsmith was a parrot, so am I.

 

Like Villon, I have debits by the carload,

Like Swinburne, I’m afraid I need a nurse;

By my dicing is Christopher out-Marlowed,

And I dream as much as Coleridge, only worse.

 

In comparison with men of golden talents,

I am all a man of talent ought to be;

I resemble every genius in his vice, however heinous –

Yet I write so much like me.

 

Sem título

(Oronzo Vito Gasparo: artista ítalo-americano)

 

De fato é desses que me lembro

 

Quando reflito sobre homens de áureos talentos,

Fico encantado, à minha maneira introvertida,

Por descobrir, à medida restabeleço o equilíbrio,

O quanto temos em comum, eu e eles.

 

Como Burns, tenho um ponto fraco por bebida,

Sei pouco latim e grego menos ainda, como Shakespeare;

Roo minhas unhas como Aristóteles;

Como Thackeary, tenho uma tendência esnobe.

 

Aflijo-me com a mesma vaidade de Byron,

Herdei a animosidade de Pope;

Como Petrarca, sinto-me atraído por uma sereia,

Tenho tendência ao desânimo, como Milton.

 

Minha ortografia é sugestiva de um Chaucer;

Como Johnson, ora ora, não desejo morrer

(Também bebo meu café no pires);

E se Goldsmith parecia um papagaio, também o sou.

 

Como Villon, tenho dívidas aos montes,

Receio precisar de uma enfermeira, como Swinburne;

Por meu vício em jogatinas, supero Chistopher Marlowe,

E sonho tanto quanto Coleridge, só que pior.

 

Ao comparar-me com homens de áureos talentos,

Sou tudo o que um homem de talento deve ser;

Pareço-me a todos os gênios em seus vícios, ainda que

execráveis –

No entanto, minha escrita muito se me assemelha.

 

Referência:

 

NASH, Ogden. So that’s who I remind me of. In: __________. The best Ogden Nash. Edited by Linell Nash Smith. Chicago, IL: Ivan R. Dee, 2007. p. 420.

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