Dos compositores
clássicos prediletos do poeta gaúcho – Beethoven, Chopin, Schumann e Debussy –,
sou insuspeito ouvinte dos dois primeiros, além de Mozart e Tchaikovsky: não há
dúvida de que o poder da música para enlear e encantar é o fator que a torna um
denominador comum em quase todas as culturas do mundo, em especial quando em conexão
com a dança, a exemplo das cerimônias rituais iniciáticas.
Nos versos de Guimarães identificam-se os seus encadeamentos com a arte literária e o mundo da natureza, meandros por onde a expressão do amor humano caminha a passos reiterados, à procura de apelos metafóricos capazes de dar conta de um sentimento que, em suas razões, pervaga por dédalos cujas cifras somente a “expertise” musical é capaz de apreender.
J.A.R. – H.C.
Eduardo Guimarães
(1892-1928)
Preferências
Beethoven! Sonho
eterno à grande luz da lua.
Paixão de amor, amor
das cousas. Réquiem e hino.
Só Dante possuiu uma
alma igual à tua
e teve como o teu o
coração divino.
Noivo da noite,
ardente e belo, ó feminino
Chopin que amaste a
morte e a glória, tumultua
ao fragor dos teus
sons a vaga de um destino
triste e, náufrago
exangue, o teu amor flutua.
E a ti, Schumann que
a morte, assim fingida amante,
seduziu e enganou,
deu-te somente a imagem
do delírio a visão do
teu sonho anelante.
Debussy! Vaga do sol
que entre reflexos dança.
Perfume e sons de
sino através da folhagem...
Ó chuva de verão
sobre os jardins de França!
Em: “A divina
quimera” (1916)
Quarteto de Cordas
(Mark Braver: artista
letão)
Referência:
GUIMARÃES, Eduardo.
Preferências. In: JUNKES, Lauro (Seleção e Prefácio). Roteiro da poesia
brasileira: simbolismo. São Paulo, SP: Global & Fundação Biblioteca
Nacional, 2006. p. 144. (Coleção ‘Roteiro da Poesia Brasileira’)
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