Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 4 de março de 2022

Eduardo Guimarães - Preferências

Dos compositores clássicos prediletos do poeta gaúcho – Beethoven, Chopin, Schumann e Debussy –, sou insuspeito ouvinte dos dois primeiros, além de Mozart e Tchaikovsky: não há dúvida de que o poder da música para enlear e encantar é o fator que a torna um denominador comum em quase todas as culturas do mundo, em especial quando em conexão com a dança, a exemplo das cerimônias rituais iniciáticas.

 

Nos versos de Guimarães identificam-se os seus encadeamentos com a arte literária e o mundo da natureza, meandros por onde a expressão do amor humano caminha a passos reiterados, à procura de apelos metafóricos capazes de dar conta de um sentimento que, em suas razões, pervaga por dédalos cujas cifras somente a expertise musical é capaz de apreender.

 

J.A.R. – H.C.

 

Eduardo Guimarães

(1892-1928)

 

Preferências

 

Beethoven! Sonho eterno à grande luz da lua.

Paixão de amor, amor das cousas. Réquiem e hino.

Só Dante possuiu uma alma igual à tua

e teve como o teu o coração divino.

 

Noivo da noite, ardente e belo, ó feminino

Chopin que amaste a morte e a glória, tumultua

ao fragor dos teus sons a vaga de um destino

triste e, náufrago exangue, o teu amor flutua.

 

E a ti, Schumann que a morte, assim fingida amante,

seduziu e enganou, deu-te somente a imagem

do delírio a visão do teu sonho anelante.

 

Debussy! Vaga do sol que entre reflexos dança.

Perfume e sons de sino através da folhagem...

Ó chuva de verão sobre os jardins de França!

 

Em: “A divina quimera” (1916)

 

Quarteto de Cordas

(Mark Braver: artista letão)

 

Referência:

 

GUIMARÃES, Eduardo. Preferências. In: JUNKES, Lauro (Seleção e Prefácio). Roteiro da poesia brasileira: simbolismo. São Paulo, SP: Global & Fundação Biblioteca Nacional, 2006. p. 144. (Coleção ‘Roteiro da Poesia Brasileira’)

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