Alpes Literários

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Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 22 de março de 2022

Aidenor Aires - Lusíada

Mirando para uma fortuna marcadamente “lusíada”, o poeta percorre a história, para de lá evocar os elementos de uma epopeia de conquistas e de declínios, como se a pátria portuguesa houvesse incorporado a sina de Sísifo, em pugna contra um fado que, distintamente de lhe impor a repetição de um mesmo ato, sublima-se em outras tantas formas de seguir ao encalço da glória.

 

As conquistas intrépidas pelo mar, as lutas pela independência das colônias africanas, as próprias transformações intestinas – leia-se, em especial, a “Revolução dos Cravos”, de abril de 1974 –, são referentes que se podem deduzir dos versos do poema.

 

E por que não se poderiam consignar também, a propósito de tamanhos feitos e em sede de oportuna vinculação, as páginas expressivas de Eduardo Lourenço (1923-2020) em “O Labirinto da Saudade”, de 1978, por meio das quais empreende, como se diz no subtítulo, uma autêntica “psicanálise mítica do destino português”?!

 

J.A.R. – H.C.

 

Aidenor Aires

(n. 1946)

 

Lusíada

 

De tanto te inundarem

lágrimas de África, Portugal,

teu mar transborda.

 

Pelas ruas resvalam

cravos rubros desatando luas

na sombra de lutos e esperas.

 

Portugal,

águias negras em Moçambique,

harpias em Angola

e naus de homens livres

nos campos de Bissau.

 

Os dias são passados, Portugal,

é morto o rei, é posto o trono

à espera de Sísifo, sua montanha

de pena e recomeço.

 

Tempestade no Mar

(Pieter Mulier II: pintor holandês)

 

Referência:

 

AIRES, Adenor. Lusíada. In: __________. 50 poemas escolhidos pelo autor: Aidenor Aires. Rio de Janeiro, RJ: Edições Galo Branco, 2009. p. 71. (Coleção ‘50 poemas escolhidos pelo autor’; v. 41)

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