Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

William Shakespeare - Soneto XXXVII

Como na relação de um pai já decrépito e um filho ainda moço, a voz poética regozija-se com o relacionamento mantido com a sua jovem amada, a quem serve de guia a propiciar-lhe ajustes em seus senões e lacunas, tornando-a digna de louvores, enfatizando ainda mais os seus próprios atributos, a exemplo da beleza e da inteligência.

A alegria da amante torna-se, assim, a alegria do próprio falante, pois que este vê na consorte tudo aquilo que, por igual, seria capaz de desejar para si mesmo, reconfortando-se desse modo de sua idade avançada. Afinal, tal panorama sói acontecer em sociedade, quando homens muito mais velhos desposam jovens esposas, buscando consorciar-se com alguém de estirpe no esplendor da beleza, dotada de talento e de vivacidade de espírito.

J.A.R. – H.C.

 

William Shakespeare

The Cobbe portrait (1610)

(1564-1616)

 

Sonnet XXXVII

 

As a decrepit father takes delight

To see his active child do deeds of youth,

So I, made lame by Fortune’s dearest spite,

Take all my comfort of thy worth and truth;

For whether beauty, birth, or wealth, or wit,

Or any of these all, or all, or more,

Entitled in thy parts, do crowned sit,

I make my love engrafted to this store:

So then I am not lame, poor, nor despised,

Whilst that this shadow doth such substance give

That I in thy abundance am sufficed,

And by a part of all thy glory live.

Look what is best, that best I wish in thee:

This wish I have; then ten times happy me!

 

Velho tenta seduzir uma jovem

(Willem van Mieris: pintor holandês)

 

Soneto XXXVII

 

Tal como um velho pai se sente satisfeito,

Ao ver fazer o filho ações da juventude,

Eu, sofrendo do fado o mais duro despeito,

Me conforto, a admirar a tua magnitude.

A estirpe, a formosura, a riqueza, ou o talento,

Ou isso totalmente ou mais do que isso ainda,

Sublimizado em ti, te faz coroado assento,

E atrai o meu amor com sedução infinda.

E vai-se todo o mal com que me oprime o fado.

É que em tua sombra tanta e tal substância existe,

Que nada e nada, enfim, se me faz desejado.

Em parte vivo, então, da glória que te assiste.

Vê o que há melhor. Ah! fosse o que há melhor só teu!...

Quanto mais feliz tu, tanto mais feliz eu.


Referências:

Em Inglês

SHAKESPEARE, William. Sonnet XXXVII. In: KEILLOR, Garrison (Selector and Introducer). Good poems. New York, NY: Penguin Books, 2003. p. 177.

Em Português

SHAKESPEARE, William. Soneto XXXVII. Tradução de Jerónimo de Aquino. In: __________. Sonetos. Tradução de Jerónimo Aquino. São Paulo, SP: Martin Claret, 2006. p. 63. (Coleção ‘‘A Obra-Prima de Cada Autor’; n. 249)

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