Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Ruy Espinheira Filho - Janeiro

Os versos do poeta baiano retroagem ao passado e, ao desembarcarem no aqui e agora, agrilhoam-se aos fios de uma inapagável memória, detendo-o para sempre “exilado” das imagens que então lhe cintilavam aos olhos: janeiro é um referente de início, de “inventos” na natureza – ou mais bem, de gêneses que concernem a sazões –, induzindo a encontros, enlaces, excitações, volúpias.

São os ânimos do verão no auge, tempo de luz em terras tropicais e de clima mais tépido, quando as chuvas abundantes fazem eclodir nuvens de insetos – “aleluias”, besouros, mariposas, joaninhas –, levas de girinos e de pássaros em revoada, a valer, profusos estímulos da natureza para que se vençam quaisquer eventuais melancolias remanescentes das festas de final de ano.

J.A.R. – H.C.

 

Ruy Espinheira Filho

(n. 1942)

 

Janeiro

 

Janeiro descia com as chuvas e inventava besouros

e borboletas e pássaros e girinos e

caminhávamos descalços no barro

e lá estavam as lavadeiras com suas coxas

morenas e fortes como a água

e que todas as noites me assombravam

calidamente.

 

Janeiro soprava um vento de primeiro instante de tudo

e o que respirávamos se chamava manhã

e foi

o que eu quis te ofertar porque eras tão bela.

 

Mas isso aconteceu depois. Depois

como agora.

E é para sempre

para nunca mais

este exílio.

 

Mulheres lavando roupas junto ao rio

(Daniel R. Knight: pintor norte-americano)


Referência:

ESPINHEIRA FILHO, Ruy. Janeiro. In: __________. Poesia reunida e inéditos: 1966-1998. 2. ed. Rio de Janeiro, RJ: Record, 1998. p. 216.

2 comentários:

  1. Saúdo o sensível autor desse blog, J. A. Rodrigues que, sempre sensível e exato na escolha, nos dá de presente esse belo poema de Ruy Espinheira Filho. Viajei na leitura e me vi escrevendo antigo poema NAQUELE JANEIRO. (Naquele janeiro as centopeias seriam silenciadas pela chuva...). Ao J. A. Rodrigues e aos leitores do blog, desejamos um 2022 sem intercorrências. E, sempre, a costumeira saúde estética, imprescindível para interpretação de um mundo (inclusive interior), em permanente transformação.

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    1. Prezado Geraldo,
      Retribuo os votos. Que tenhamos um ano promissor e que o país seja capaz de superar, de uma vez por todas, esse divisionismo que, por ora, nele grassa.
      Um abraço,
      João A. Rodrigues

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