Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Charles Baudelaire - Epílogo

Neste “Epílogo” ao “Le Spleen de Paris” (póstumo 1846-1859), Baudelaire – paradoxalmente para os leitores mais desavisados sobre o padrão de sua obra – evoca os aspectos mais insólitos ou sórdidos da capital francesa, a saber, “hospital, lupanares, purgatório, inferno, penitenciária”, exprimindo-se em termos amorosos diante desse desarranjo contemplado desde o cimo de uma montanha.

Baudelaire deixa-se atrair pelo lado mais “devasso” ou mesmo “infame” – como o próprio poeta a adjetiva – de Paris, chegando a afirmar que os prazeres oferecidos por prostitutas, cortesãs e bandidos não podem ser compreendidos pelos “profanos vulgares”, do que se deduz que, habituado às compulsões desencadeadas pelo afeiçoamento a Satã, tornara-se ele próprio um “profano requintado”! (rs)

J.A.R. – H.C.

 

Charles Baudelaire

(1821-1867)

 

Épilogue

 

Le cœur content, je suis monté sur la montagne

D’où l’on peut contempler la ville en son ampleur,

Hôpital, lupanars, purgatoire, enfer, bagne,

 

Où toute énormité fleurit comme une fleur.

Tu sais bien, ô Satan, patron de ma détresse,

Que je n’allais pas là pour répandre un vain pleur;

 

Mais comme un vieux paillard d’une vieille maîtresse,

Je voulais m’enivrer de l’énorme catin

Dont le charme infernal me rajeunit sans cesse.

 

Que tu dormes encor dans les draps du matin,

Lourde, obscure, enrhumée, ou que tu te pavanes

Dans les voiles du soir passementés d’or fin,

 

Je t’aime, ô capitale infâme! Courtisanes

Et bandits, tels souvent vous offrez des plaisirs

Que ne comprennent pas les vulgaires profanes.

 

Satã no Conclave

Em preto e branco no original

(Gustave Doré: ilustrador francês)

 

Epílogo

 

De coração contente, subo uma colina

Da qual se pode ver toda a cidade:

Bordel, inferno, purgatório e piscina

 

Em que qualquer espécie de maldade

Floresce. Ó Satã, senhor do meu pesar,

Bem sabes que não vim por vã saudade,

 

Mas para, velho libertino, desfrutar

Da grande meretriz os dotes infernais

Que me inebriam e remoçam ser cessar.

 

Quer durmas nos lenções das brumas matinais,

Quer tua manta de ouro semeada

Ostentes a bater as ruas noturnais,

 

Eu te amo, capital famigerada!

Ladrões e cortesãs, às vezes, oferecem

Prazeres tais de que o vulgar não sabe nada.


Referências:

Em Francês

BAUDELAIRE, Charles. Épilogue. In: __________. Oeuvres complètes. IV: Petits poèmes en prose (les paradis artificiels). Paris, FR: Michel Lévy Frères Éditeurs, 1869. p. 151.

Em Português

BAUDELAIRE, Charles. Epílogo. Tradução de Oleg Almeida. In: __________. O esplim de Paris: pequenos poemas em prosa e outros escritos. Tradução de Oleg Almeida. São Paulo: Martin Claret, 2010. p. 131. (Coleção MC Clássicos de Bolso: literatura universal, n. 4)

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