Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Andrew Marvell - Pensamentos em um Jardim (Excertos)

O falante deste poema encontra-se num belo jardim que, pelas alusões contidas nos versos, assemelha-se ao das primícias do Éden bíblico, não só em razão das imagens de pomares e de vinhedos, como também das associações que dizem respeito à “queda” de Adão e Eva, depois de haverem cedido à sugestão da serpente, alimentando-se do fruto proibido.

Alguém poderia reportar, mais ao longe, o relato da maçã caindo sobre a cabeça de Newton (1643-1727), a lhe fomentar as ideias que iriam desaguar na lei da gravitação universal. Consigne-se, contudo, que tal lei somente veio à prensa em 1687 – posteriormente, portanto, ao falecimento do poeta.

Há mais na segunda estância: quando se menciona o fato de que os tipos ou categorias surgem aos pares, logo evocamos a cena dos animais, em parelhas, adentrando a arca de Noé. Aliás, mesmo a forma das rimas, no original, em díades, memora tal ideia. Reivindica-se, de um lado, a coisa em si, ou seja, em seu estado imanente, e, de outro, a imagem que dela se reproduz na efervescência da mente.

Mas a mente também tem os seus pensamentos originais, ou não meramente reflexivos, sobre a natureza – e é a isso que o poeta se refere quando formula “pensamentos verdes” na cabeça de alguém a matutar sob o verde de hipotéticas frondes.

J.A.R. – H.C.

 

Andrew Marvell

(1621-1678)

 

Thoughts in a Garden (Excerpts)

 

What wond’rous life in this I lead!

Ripe apples drop about my head;

The luscious clusters of the vine

Upon my mouth do crush their wine;

The nectarine and curious peach

Into my hands themselves do reach;

Stumbling on melons as I pass,

Ensnar’d with flow’rs, I fall on grass.

 

Meanwhile the mind, from pleasure less,

Withdraws into its happiness;

The mind, that ocean where each kind

Does straight its own resemblance find,

Yet it creates, transcending these,

Far other worlds, and other seas;

Annihilating all that’s made

To a green thought in a green shade.

 

Le Cannet: Madame Lebasque lendo no jardim

(Henri Lebasque: pintor francês)

 

Pensamentos em um Jardim (Excertos)

 

Quão maravilhosa é esta vida que levo!

Maçãs maduras caem-me sobre a cabeça;

Dos suculentos racimos da videira

Espremem-me sobre a boca o vinho;

A nectarina e o primoroso pêssego

Chegam-me até as próprias mãos;

Tropeçando em melões ao passar,

Enredado em flores, tombo na grama.

 

Contudo, sendo escasso o prazer, a mente

Refugia-se em seu estado de felicidade;

A mente, esse oceano onde cada gênero

Encontra aquele que lhe seja semelhante,

Cria, ainda assim, transcendendo a esses,

Outros distantes mundos e outros mares,

Aniquilando tudo quanto há de manifesto

Em prol de um pensar verde à verde sombra.


Referência:

MARVELL, Andrew. Thoughts in a garden. In: KEILLOR, Garrison (Selection and Introduction). Good poems for hard times. New York, NY: Penguin Books, 2006. p. 23.

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