Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Ernesto Sabato - Crítica aos Críticos

Aqui estão algumas críticas formuladas aos críticos, em recolha do escritor argentino: são elas originárias de autores de respeito e, embora não se deva dar prevalência a argumentos de autoridade, hão de ser levadas na devida conta, haja vista que as críticas que produzem são uma espécie de subproduto de sua atividade criativa, sendo menos provável que venham a incorrer em juízos intemperados no tom ou mesmo na forma.

Sobre o tema geral da crítica ao crítico, podemos nos reportar ao ensaio “To Criticize the Critic” (“Criticar o Crítico”), de T. S. Eliot (1888-1965), disponível neste endereço, mediante o qual o autor anglo-americano postula que a mudança nos gostos literários deve ser resultante do labor dos artistas da palavra – os escritores e poetas –, não exatamente do trabalho dos críticos.

J.A.R. – H.C.

 

Ernesto Sabato

(1911-2011)

 

Crítica aos Críticos



(SABATO, 2003, p. 163-164)



Sartre: “A maioria dos críticos são homens que não tiveram sorte e que, no momento em que estavam nos limites do desespero, encontraram um modesto e tranquilo trabalho de vigia de cemitérios”.

Para o crítico, é um prazer que os autores contemporâneos lhe concedam a graça de morrer: seus livros, demasiado crus, demasiado vivos, demasiado opressivos, passam para o outro lado, influem cada vez menos e se tornam cada vez mais serenos; depois de uma breve permanência no purgatório, vão povoar o céu inteligível dos novos valores. Bergotte, Swann, Siegfried, Bella e M. Teste: eis aqui aquisições recentes. Espera-se por Nathanaël e Ménalque. Quanto aos escritores que teimam em viver, se lhes pede unicamente que não se movam muito e que procurem se parecer antecipadamente com os mortos que hão de ser. Valery não se deu mal, ao publicar, desde os 25 anos, livros póstumos”.

 

Flaubert: “Não serve para nada, senão para incomodar os autores e para embrutecer o público. Faz-se crítica quando não se pode fazer arte, do mesmo modo que se trabalha de espião quando não se pode ser soldado”.

 

Pavese: “Todo crítico é, propriamente falando, uma mulher na idade crítica: rancoroso e refoulé”.

 

Baudelaire: “Saint-Marc Girardin disse que algo ficará: Sejamos medíocres. Aproximemos essa frase da de Robespierre: Os que não creem na imortalidade de seu ser fazem a si mesmo justiça. As palavras de [este crítico] Saint-Marc Girardin implicam um imenso ódio contra o sublime”.

 

Gaëtan Picon: “O juízo imediato tende, às vezes, a desvalorizar o contemporâneo: a submissão com respeito aos modelos antigos, o temor de perder seus riscos, juntam-se, como em Sainte-Beuve, a uma invencível repugnância diante da proximidade do gênio. Julgar ao vivo é coisa difícil: mas a cada instante se julga ao vivo”.

 

Henry Miller: “Tudo o que os críticos digam de uma obra de arte, mesmo nos melhores ensaios, mesmo nos mais densos, convincentes e plausíveis, mesmo nos escritos com amor (coisa que raramente ocorre), não é nada comparado com a mecânica real, com a verdadeira gênese da obra de arte”.

 

Retrato de Denis Diderot

(Louis-Michel van Loo: pintor francês)


Referência:

SABATO, Ernesto. O escritor e seus fantasmas. Tradução de Pedro Maia Soares. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2003.

 

2 comentários:

  1. J. A. Rodrigues, como sempre, traz uma postagem interessante. Visitar o blog para conhecer, aprender e emocionar é coisa a ser tomada como obrigação diária. Por essas e outras é que visito, divulgo e recomendo. Abençoado seja!

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    1. Prezado Geraldo,
      Agradeço-lhe as palavras. Elas são, obviamente, um grande incentivo para manter e levar à frente este blog, de forma a dar espaço a escritores e poetas, a ideias e informações que sejam úteis a quem, como você, navega por suas páginas.
      Um abraço,
      J. A. Rodrigues

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