Aqui estão algumas críticas formuladas aos críticos, em recolha do escritor argentino: são elas originárias de autores de respeito e, embora não se deva dar prevalência a argumentos de autoridade, hão de ser levadas na devida conta, haja vista que as críticas que produzem são uma espécie de subproduto de sua atividade criativa, sendo menos provável que venham a incorrer em juízos intemperados no tom ou mesmo na forma.
Sobre o tema geral da crítica ao crítico, podemos nos reportar ao ensaio “To Criticize the Critic” (“Criticar o Crítico”), de T. S. Eliot (1888-1965), disponível neste endereço, mediante o qual o autor anglo-americano postula que a mudança nos gostos literários deve ser resultante do labor dos artistas da palavra – os escritores e poetas –, não exatamente do trabalho dos críticos.
J.A.R. – H.C.
Ernesto Sabato
(1911-2011)
Crítica aos Críticos
(SABATO, 2003, p. 163-164)
Sartre: “A maioria dos
críticos são homens que não tiveram sorte e que, no momento em que estavam nos
limites do desespero, encontraram um modesto e tranquilo trabalho de vigia de
cemitérios”.
“Para o crítico, é um
prazer que os autores contemporâneos lhe concedam a graça de morrer: seus
livros, demasiado crus, demasiado vivos, demasiado opressivos, passam para o
outro lado, influem cada vez menos e se tornam cada vez mais serenos; depois de
uma breve permanência no purgatório, vão povoar o céu inteligível dos novos
valores. Bergotte, Swann, Siegfried, Bella e M. Teste: eis aqui aquisições
recentes. Espera-se por Nathanaël e Ménalque. Quanto aos escritores que teimam
em viver, se lhes pede unicamente que não se movam muito e que procurem se
parecer antecipadamente com os mortos que hão de ser. Valery não se deu mal, ao
publicar, desde os 25 anos, livros póstumos”.
Flaubert: “Não serve para
nada, senão para incomodar os autores e para embrutecer o público. Faz-se
crítica quando não se pode fazer arte, do mesmo modo que se trabalha de espião
quando não se pode ser soldado”.
Pavese: “Todo crítico é,
propriamente falando, uma mulher na idade crítica: rancoroso e refoulé”.
Baudelaire: “Saint-Marc Girardin
disse que algo ficará: Sejamos medíocres. Aproximemos essa frase da de
Robespierre: Os que não creem na imortalidade de seu ser fazem a si mesmo
justiça. As palavras de [este crítico] Saint-Marc Girardin implicam um
imenso ódio contra o sublime”.
Gaëtan Picon: “O juízo imediato
tende, às vezes, a desvalorizar o contemporâneo: a submissão com respeito aos
modelos antigos, o temor de perder seus riscos, juntam-se, como em
Sainte-Beuve, a uma invencível repugnância diante da proximidade do gênio.
Julgar ao vivo é coisa difícil: mas a cada instante se julga ao vivo”.
Henry Miller: “Tudo o que os
críticos digam de uma obra de arte, mesmo nos melhores ensaios, mesmo nos mais
densos, convincentes e plausíveis, mesmo nos escritos com amor (coisa que
raramente ocorre), não é nada comparado com a mecânica real, com a verdadeira
gênese da obra de arte”.
Retrato de Denis Diderot
(Louis-Michel van Loo: pintor francês)
Referência:
SABATO, Ernesto. O escritor e seus
fantasmas. Tradução de Pedro Maia Soares. São Paulo, SP: Companhia das
Letras, 2003.
J. A. Rodrigues, como sempre, traz uma postagem interessante. Visitar o blog para conhecer, aprender e emocionar é coisa a ser tomada como obrigação diária. Por essas e outras é que visito, divulgo e recomendo. Abençoado seja!
ResponderExcluirPrezado Geraldo,
ExcluirAgradeço-lhe as palavras. Elas são, obviamente, um grande incentivo para manter e levar à frente este blog, de forma a dar espaço a escritores e poetas, a ideias e informações que sejam úteis a quem, como você, navega por suas páginas.
Um abraço,
J. A. Rodrigues