Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 29 de janeiro de 2022

Claribel Alegría - Ars Poetica

A poetisa e escritora nicaraguense não olvida que o vate, vez por outra, faça as vezes de uma “ave de mau agouro” a pressagiar azares, desditas, perdas ou más colheitas. Ainda assim, ela não se trocaria para fazer as vezes da Vênus de Milo no Louvre, em Paris (FR), admirada por milhões de turistas, mas exposta ao “tédio” e à decantação do pó, sempre à espreita.

Alegría prefere fazer jus ao próprio nome (rs), vislumbrando a cada dia a “terra prometida”, luminosa entre vales, vulcões e despojos de guerra: nada de marasmo em sua “arte poética”, pois o que a mantém viva é a luta quotidiana com as palavras e o desvendar de possibilidades insuspeitadas para essa terra onde o sol nunca se põe.

J.A.R. – H.C.

 

Claribel Alegría

(1924-2018)

 

Ars Poetica

 

Yo,

poeta de oficio,

condenada tantas veces

a ser cuervo

jamás me cambiaría

por la Venus de Milo:

mientras reina en el Louvre

y se muere de tedio

y junta polvo

yo descubro el sol

todos los días

y entre valles

volcanes

y despojos de guerra

avizoro la tierra prometida.

 

Destruição da Fortaleza - Guerra Civil Inglesa

Castelo de Scarborough, 1645

(Ivan Lapper: artista inglês)

 

Ars Poetica

 

Eu,

poeta de ofício,

condenada tantas vezes

a ser corvo,

jamais me trocaria

pela Vênus de Milo:

enquanto ela reina no Louvre,

morre de tédio

e cobre-se de poeira,

eu descubro o sol

todos os dias

e, entre vales,

vulcões

e despojos de guerra,

espreito a terra prometida.


Referência:

ALEGRÍA, Claribel. Ars poetica. In: __________. Variaciones en clave de mí: poesía. 1. ed. Madrid, ES: Libertarias/Prodhufi, sept. 1993. p. 26. (Colección ‘Libros del Egoista’)

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