A poetisa e escritora nicaraguense não olvida que o vate, vez por outra, faça as vezes de uma “ave de mau agouro” a pressagiar azares, desditas, perdas ou más colheitas. Ainda assim, ela não se trocaria para fazer as vezes da Vênus de Milo no Louvre, em Paris (FR), admirada por milhões de turistas, mas exposta ao “tédio” e à decantação do pó, sempre à espreita.
Alegría prefere fazer jus ao próprio nome (rs), vislumbrando a cada dia a “terra prometida”, luminosa entre vales, vulcões e despojos de guerra: nada de marasmo em sua “arte poética”, pois o que a mantém viva é a luta quotidiana com as palavras e o desvendar de possibilidades insuspeitadas para essa terra onde o sol nunca se põe.
J.A.R. – H.C.
Claribel Alegría
(1924-2018)
Ars Poetica
Yo,
poeta de oficio,
condenada tantas veces
a ser cuervo
jamás me cambiaría
por la Venus de Milo:
mientras reina en el Louvre
y se muere de tedio
y junta polvo
yo descubro el sol
todos los días
y entre valles
volcanes
y despojos de guerra
avizoro la tierra prometida.
Destruição da Fortaleza - Guerra Civil Inglesa
Castelo de Scarborough, 1645
(Ivan Lapper: artista inglês)
Ars Poetica
Eu,
poeta de ofício,
condenada tantas vezes
a ser corvo,
jamais me trocaria
pela Vênus de Milo:
enquanto ela reina no Louvre,
morre de tédio
e cobre-se de poeira,
eu descubro o sol
todos os dias
e, entre vales,
vulcões
e despojos de guerra,
espreito a terra prometida.
Referência:
ALEGRÍA, Claribel. Ars poetica. In:
__________. Variaciones en clave de mí: poesía. 1. ed. Madrid, ES:
Libertarias/Prodhufi, sept. 1993. p. 26. (Colección ‘Libros del Egoista’)
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