Blaga recorre livremente ao mito de Édipo x Esfinge, adaptando-o à visão que costuma formular em seus poemas, qual seja, a de aproximação ao silêncio cósmico, a um plano absoluto, que lhe parece ser a vocação última do espírito humano: aquele que, aqui, indaga não é a Esfinge, senão o próprio Édipo, tentando dar voltas ao seu atormentado destino, à pretensiosa espera de um “final feliz”.
Mas o silêncio entre ambos não se rompe, pois a Esfinge não se presta a fazer as vezes de um oráculo: a gravidade da pergunta que lhe é formulada, de todo modo, faculta subentender que o seu equilíbrio restou abalado e somente um dos dois poderá seguir nesse dilema de mundos simbólicos inconciliáveis, carentes de diálogo.
Para perdurar sob os éons do tempo, a Esfinge logo estenderá a asa sobre Édipo: tal é a reposta sem palavras, extrema, peremptória. E o resto é um hamletiano silêncio!
J.A.R. – H.C.
Lucian Blaga
(1895-1961)
Oedip în faţa Sfinxului
Ascult. Adâncul tău ce-amar şi ce pustiu,
cât de fierbinte, dulce trebuie să fie.
În preajma ta, în larg, se stinge tot ce-i viu,
doar pajiştea cu oseminte învie.
Aştept aici cu-nspăimântată bucurie,
tăcerea lungă să se rupă între noi,
cumplit, amarnic sfâşiată ca o iie
într-un iatac, pe întuneric între doi.
Şi văd mirat cum ghiarele din când în când
îţi ies şi se retrag în pungi de catifea,
ca la pisici, în gând şi-n prag la pândă stând.
Vorbeşti? – Te doare şi pe tine întrebarea?
C-un freamăt te mai stinghereşte-o clipă marea,
dar aripa ţi-o potriveşti spre-a mă curma.
(1962)
Édipo e a Esfinge
(Jean-Auguste D. Ingres: pintor francês)
Édipo em frente à Esfinge
Escuto. Amarga, tua alma desprovida
precisa tanto tornar-se doce, fervente.
Perto de ti, ao largo, cessa toda a vida,
só ressuscita o campo dos ossos em frente.
Aguardo estarrecido, com delícia ingente
que o silêncio alongado se rompa entre nós,
como um vestido estraçalhado, cruelmente,
em uma alcova, às escuras, a dois, a sós.
Vejo espantado que tuas garras, contudo,
como as de um gato, no limiar, espreitando,
saem e retraem-se em bolsas de veludo.
Falas? – Também a ti a pergunta tortura?
Ainda o mar te mostra um frêmito, uma agrura,
mas estendes a asa para me rasgar.
(1962)
Referência:
BLAGA, Lucian. Oedip în faţa sfinxului / Édipo
em frente à esfinge. Tradução de Caetano Waldrigues Galindo. In:
__________. A grande travessia. Seleção, tradução e introdução de
Caetano Waldrigues Galindo. Brasília, DF: Editora da UnB, 2005. Em romeno: p.
44; em português: p. 45. (Coleção ‘Poetas do Mundo’)
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