Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 16 de janeiro de 2022

Lucian Blaga - Édipo em frente à Esfinge

Blaga recorre livremente ao mito de Édipo x Esfinge, adaptando-o à visão que costuma formular em seus poemas, qual seja, a de aproximação ao silêncio cósmico, a um plano absoluto, que lhe parece ser a vocação última do espírito humano: aquele que, aqui, indaga não é a Esfinge, senão o próprio Édipo, tentando dar voltas ao seu atormentado destino, à pretensiosa espera de um “final feliz”.

Mas o silêncio entre ambos não se rompe, pois a Esfinge não se presta a fazer as vezes de um oráculo: a gravidade da pergunta que lhe é formulada, de todo modo, faculta subentender que o seu equilíbrio restou abalado e somente um dos dois poderá seguir nesse dilema de mundos simbólicos inconciliáveis, carentes de diálogo.

Para perdurar sob os éons do tempo, a Esfinge logo estenderá a asa sobre Édipo: tal é a reposta sem palavras, extrema, peremptória. E o resto é um hamletiano silêncio!

J.A.R. – H.C.

 

Lucian Blaga

(1895-1961)

 

Oedip în faţa Sfinxului

 

Ascult. Adâncul tău ce-amar şi ce pustiu,

cât de fierbinte, dulce trebuie să fie.

În preajma ta, în larg, se stinge tot ce-i viu,

doar pajiştea cu oseminte învie.

 

Aştept aici cu-nspăimântată bucurie,

tăcerea lungă să se rupă între noi,

cumplit, amarnic sfâşiată ca o iie

într-un iatac, pe întuneric între doi.

 

Şi văd mirat cum ghiarele din când în când

îţi ies şi se retrag în pungi de catifea,

ca la pisici, în gând şi-n prag la pândă stând.

 

Vorbeşti? – Te doare şi pe tine întrebarea?

C-un freamăt te mai stinghereşte-o clipă marea,

dar aripa ţi-o potriveşti spre-a mă curma.

 

(1962)

 

Édipo e a Esfinge

(Jean-Auguste D. Ingres: pintor francês)

 

Édipo em frente à Esfinge

 

Escuto. Amarga, tua alma desprovida

precisa tanto tornar-se doce, fervente.

Perto de ti, ao largo, cessa toda a vida,

só ressuscita o campo dos ossos em frente.

 

Aguardo estarrecido, com delícia ingente

que o silêncio alongado se rompa entre nós,

como um vestido estraçalhado, cruelmente,

em uma alcova, às escuras, a dois, a sós.

 

Vejo espantado que tuas garras, contudo,

como as de um gato, no limiar, espreitando,

saem e retraem-se em bolsas de veludo.

 

Falas? – Também a ti a pergunta tortura?

Ainda o mar te mostra um frêmito, uma agrura,

mas estendes a asa para me rasgar.

 

(1962)


Referência:

BLAGA, Lucian. Oedip în faţa sfinxului / Édipo em frente à esfinge. Tradução de Caetano Waldrigues Galindo. In: __________. A grande travessia. Seleção, tradução e introdução de Caetano Waldrigues Galindo. Brasília, DF: Editora da UnB, 2005. Em romeno: p. 44; em português: p. 45. (Coleção ‘Poetas do Mundo’)

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