Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Millôr Fernandes - Hamlet 1954

Neste “poeminha” – que é a forma como Millôr predica a maioria dos carmes recolhidos à obra em referência –, o poeta que nele há instila humor nestas linhas que fazem referência ao estado de ânimo irresoluto, taciturno e ambivalente de Hamlet, personagem da famosa peça homônima de William Shakespeare (1564-1616).

É clara a associação do 1954 inserto no título ao ano em que redigido o poema, considerando a data aposta ao seu final – 18/1/1954 –, isto é, há quase 68 anos. Consigne-se que, ao longo de todo esse tempo, até o seu passamento, Millôr foi um dos tradutores brasileiros que se dedicou a verter ao português grande parte das peças mais representativas do bardo.

J.A.R. – H.C.

Millôr Fernandes

(1923-2012)

 

Hamlet 1954

 

Devia escrever a meu irmão

Mas não vou escrever não.

Pois agora devo sair

Ou é melhor ir dormir?

Para comprar uns jornais

Ou então ficar em casa

E ler coisas mais normais

(ou morais?)

Estou certo do que penso

Inda se o contrário pensar;

Vou fazer o meu regime

Logo depois do jantar.

E depois vou a um cinema

(ou é melhor ir a um bar?)

Faço

Fico

Na certa que não

Que sim

Sempre estou

(ou nunca estou?)

Inseguro de mim.

 

18/1/1954

 

A visão de Hamlet

(Pedro Américo: pintor paraibano)


Referência:

FERNANDES, Millôr. Hamlet 1954. In: __________. Essa cara não me é estranha e outros poemas. 1. ed. São Paulo, SP: Boa Companhia, 2014. p. 44.

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