Neste “poeminha” – que é a forma como
Millôr predica a maioria dos carmes recolhidos à obra em referência –, o poeta
que nele há instila humor nestas linhas que fazem referência ao estado de ânimo
irresoluto, taciturno e ambivalente de Hamlet, personagem da famosa peça
homônima de William Shakespeare (1564-1616).
É clara a associação do 1954 inserto no título ao ano em que redigido o poema, considerando a data aposta ao seu final – 18/1/1954 –, isto é, há quase 68 anos. Consigne-se que, ao longo de todo esse tempo, até o seu passamento, Millôr foi um dos tradutores brasileiros que se dedicou a verter ao português grande parte das peças mais representativas do bardo.
J.A.R. – H.C.
Millôr Fernandes
(1923-2012)
Hamlet 1954
Devia escrever a meu irmão
Mas não vou escrever não.
Pois agora devo sair
Ou é melhor ir dormir?
Para comprar uns jornais
Ou então ficar em casa
E ler coisas mais normais
(ou morais?)
Estou certo do que penso
Inda se o contrário pensar;
Vou fazer o meu regime
Logo depois do jantar.
E depois vou a um cinema
(ou é melhor ir a um bar?)
Faço
Fico
Na certa que não
Que sim
Sempre estou
(ou nunca estou?)
Inseguro de mim.
18/1/1954
A visão de Hamlet
(Pedro Américo: pintor paraibano)
Referência:
FERNANDES, Millôr. Hamlet 1954. In:
__________. Essa cara não me é estranha e outros poemas. 1. ed. São
Paulo, SP: Boa Companhia, 2014. p. 44.
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