Whitman, por duas vezes, revela estar infeliz, mesmo a despeito de que seu nome tenha sido bem recebido no Capitólio, e ainda que pondere como realizados os seus planos de vida. Mas o poeta se reconcilia com o seu fado e com a fama obtida com a obra poética que publicara, quando o seu amigo – os versos finais são inequívocos sobre a relação de companheirismo mantida com um outro homem, seu amante – veio ter com ele.
Em meio a uma imagística pastoral, o tema da sexualidade desponta como defluência de um processo natural, como se Whitman estivesse encerrando um ciclo de repressões às suas tendências eróticas invertidas. Desdobra-se daí certa confrontação entre as perspectivas de sua vida pública – celebridade, fama ou prestígio – e de sua vida privada – cujo teor, alcançando publicidade, poderia não ser bem aceito na puritana América do século XIX.
J.A.R. – H.C.
Walt Whitman
(1819-1892)
When I heard at the
close of day
When I heard at the
close of the day how my name had been receiv’d with plaudits in the capitol, still
it was not a happy night for me that follow’d,
And else when I
carous’d, or when my plans were accomplish’d, still I was not happy,
But the day when I
rose at dawn from the bed of perfect health, refresh’d, singing, inhaling the
ripe breath of autumn,
When I saw the full
moon in the west grow pale and disappear in the morning light,
When I wander’d alone
over the beach, and undressing bathed, laughing with the cool waters, and saw
the sun rise,
And when I thought
how my dear friend my lover was on his way coming, O then I was happy,
O then each breath
tasted sweeter, and all that day my food nourish’d me more, and the beautiful
day pass’d well,
And the next came
with equal joy, and with the next at evening came my friend,
And that night, while
all was still I heard the waters roll slowly continually up the shores,
I heard the hissing
rustle of the liquid and sands as directed to me whispering to congratulate me,
For the one I love
most lay sleeping by me under the same cover in the cool night,
In the stillness in
the autumn moonbeams his face was inclined toward me,
And his arm lay
lightly around my breast – and that night I was happy.
À espera de que o romance chegue
(Fabian Perez: pintor argentino)
Ouvi no fim do dia
Ouvi no fim do dia
sobre o modo como meu nome foi recebido no capitólio, e ainda assim não foi uma
noite feliz para mim aquela que se seguiu,
E mais, quando eu me
diverti, ou quando meus planos foram realizados, ainda assim eu não me senti
feliz,
Mas no dia em que me
levantei da cama, na alvorada, com perfeita saúde, renovado, cantando, inalando
o maduro sopro do outono,
Quando vi a lua cheia
no Oeste crescer pálida e desaparecer na luz da manhã,
Quando vaguei sozinho
pela praia e despido me banhei, rindo com as águas frescas, e avistando o
nascer do sol,
E quando pensei sobre
o fato de que meu amigo querido, meu amante, já estava viajando para me
encontrar, ó então, senti-me feliz,
Ó então, cada sopro
de minha respiração tinha um gosto mais doce, e durante todo aquele dia a minha
comida foi mais nutritiva e o dia maravilhoso passou tão bem,
E o próximo veio com
a mesma alegria, e na noite do próximo veio o meu amigo,
E naquela noite,
quando tudo estava em silêncio, ouvi as águas rolarem vagarosamente,
continuamente, sobre o litoral,
Ouvi o sibilo
apressado do líquido nas areias, dirigindo-se para mim, sussurrando para me
congratular,
Pois aquele a quem
mais amo estava dormindo ao meu lado, embaixo da mesma coberta, na noite
fresca,
No silêncio dos raios
lunares outonais, sua face estava inclinada em minha direção,
E seus braços caíam
levemente em torno de meu peito – e naquela noite eu estava feliz.
Referências:
Em Inglês
WHITMAN, Walt. When I heard at the close of day. In: KEILLOR, Garrison (Selector and Introducer). Good poems. New York, NY: Penguin Books, 2003. p. 94.
Em Português
WHITMAN, Walt. Ouvi no fim do dia. Tradução
de Luciano Alves Meira. In: __________. Folhas de relva. Texto integral.
Tradução e introdução de Luciano Alves Meira. 2. ed. São Paulo (SP): Martin
Claret, 2012. p. 137-138. (Série Ouro: Coleção ‘A Obra-Prima de Cada Autor’; n.
42)
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