Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Howard Nemerov - Vermeer

Nemerov discorre sobre a simplicidade e a beleza das coisas, perante o fluxo do quotidiano, assim como as vislumbra nas obras pictóricas do holandês Johannes Vermeer (1632-1675), sugerindo-nos que as apreciemos, tanto aquelas a que faz menção no infratranscrito poema [tente identificá-las, leitor(a)], quanto muitas outras – a exemplo das exibidas como resposta a esta pesquisa no Google.

Se me fosse concedida a oportunidade de uma glosa, diria que a modéstia que o falante atribui às telas de Vermeer é também a lhanura que se depreende dos versos do poeta – luz que se difunde sob um olhar sereno sobre o mundo, apreendendo da natureza a poesia, não transfigurada em outras tantas representações, senão tal como ela exatamente se nos mostra.

J.A.R. – H.C.

 

Howard Nemerov

(1920-1991)

 

Vermeer

 

Taking what is, and seeing it as it is,

Pretending to no heroic stances or gestures,

Keeping it simple; being in love with light

And the marvelous things that light is able to do,

How beautiful! a modesty which is

Seductive extremely, the care for daily things.

 

At one for once with sunlight falling through

A leaded window, the holy mathematic

Plays out the cat’s cradle of relation

Endlessly; even the inexorable

Domesticates itself and becomes charm.

 

If I could say to you, and make it stick,

A girl in a red hat, a woman in blue

Reading a letter, a lady weighing gold…

If I could say this to you so you saw,

And knew, and agreed that this was how it was

In a lost city across the sea of years,

I think we should be for one moment happy

In the great reckoning of those little rooms

Where the weight of life has been lifted and made light,

Or standing invisible on the shore opposed,

Watching the water in the foreground dream

Reflectively, taking a view of Delft

As it was, under a wide and darkening sky.

 

Mulher de azul lendo uma carta

(Johannes Vermeer: pintor holandês)

 

Vermeer

 

Tomar algo pelo que é, e vê-lo tal como é,

Sem pretender posturas ou gestos heroicos,

Mantendo-o na simplicidade; ser atraído pela luz

E pelas coisas que a luz é capaz de despertar,

Que belo! uma modéstia que é sedutora

Ao extremo, o interesse por coisas quotidianas.

 

De uma vez por todas, com a luz do sol a penetrar

Por um vitral chumbado, a sagrada matemática

Reproduz o emaranhado de uma relação,

Indefinidamente; mesmo o inexorável

Domestica-se e converte-se em encanto.

 

Se vos pudesse elencar, levando-vos a prosseguir,

‘Moça com chapéu vermelho’, ‘Mulher de azul

Lendo uma carta’, ‘Uma senhora pesando ouro’...

Se vos pudesse indicar isso para que vejais,

Conheçais e estejais concordes de que assim se passou

Numa cidade desaparecida por efeito de um mar de anos,

Penso que deveríamos estar felizes por um momento

No grande ajuste de contas desses pequenos recintos

Onde o peso da vida foi levantado e tornado leve,

Ou, permanecendo invisíveis na margem oposta,

Observar a água em primeiro plano num sonho,

Reflexivamente, tendo uma ‘Visão de Delft’,

Tal como era a cidade, sob um céu turvo e amplo.


Referência:

NEMEROV, Howard. Vermeer. In: KEILLOR, Garrison (Selector and Introducer). Good poems. New York, NY: Penguin Books, 2003. p. 226.

Nenhum comentário:

Postar um comentário