Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Tishani Doshi - No Museu Rodin

Os versos deste poema decerto são cogitações que afloraram à mente da poetisa indiana – a se confiar no título do poema – durante uma visita ao Museu Rodin, em Paris (FR): transitando pelas alas do prédio, entre as peças escultóricas do artista francês, imagina-se Doshi em companhia do poeta Rilke, nascido em Praga (CZ), numa jornada transversal pelo duo espaço/tempo.

Intrigou-me o fato de que as associações tenham sido elaboradas em relação a elementos líricos presentes nos poemas de Rilke, e não exatamente em conexão com as linhas, vincos ou gestuais realistas lavrados em bronze ou mármore, tão ostensivos nas figuras humanas de Rodin – e que estavam logo ali à sua frente! Em sua beleza, poderia ele imaginar-se como modelo – e que modelo! – para emergir do bronze à eternidade, pelas mãos do artista! (rs)

J.A.R. – H.C.

 

Tishani Doshi

(n. 1975)

 

At the Rodin Museum

 

Rilke is following me everywhere

With his tailor-made suits

And vegetarian smile.

 

He says because I’m young,

I’m always beginning,

And cannot know love.

 

He sees how I’m a giant piece

Of glass again, trying

To catch the sun

 

In remote corners of rooms,

Mountain tops, uncertain

Places of light.

 

He speaks of the cruelty

Of hospitals, the stillness

Of cathedrals,

 

Takes me through bodies

And arms and legs

Of such extravagant size,

 

The ancient sky burrows in

With all the dead words

We carry and cannot use.

 

He holds up mirrors

From which our reflections fall –

Half-battered existences,

 

Where we lose ourselves

For the sake of the other,

And the others still to come.

 

Museu Rodin

(Paris - FR)

 

No Museu Rodin

 

Rilke segue-me por toda parte

Com seus ternos feitos sob medida

E sorriso vegetariano.

 

Diz ele que em razão de eu ser jovem,

Estou sempre começando,

E não posso conhecer o amor.

 

Ele vê como sou, repetidamente,

Uma enorme peça de vidro,

Tentando capturar o sol

 

Nos cantos remotos de cômodos,

Topos de montanhas, incertos

Lugares de luz.

 

Fala da crueldade

Dos hospitais, da quietude

Das catedrais,

 

Conduz-me por entre corpos,

Braços e pernas

de tamanho tão extravagante,

 

O antigo céu a encobrir-se

Com todas as palavras mortas

Que carregamos sem que as possamos usar.

 

Ele sustém espelhos dos quais

Precipitam-se nossos reflexos –

Existências meio desgastadas,

 

Em cujas sendas nos perdemos

Pelo bem do outro,

E dos demais ainda por vir.


Referência:

DOSHI, Tishani. At the Rodin museum. In: THAYIL, Jeet (Ed.). 60 indian poets. New Delhi, IN: Penguin Books India, 2008. p. 135-136.

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