Os versos deste poema decerto são cogitações que afloraram à mente da poetisa indiana – a se confiar no título do poema – durante uma visita ao Museu Rodin, em Paris (FR): transitando pelas alas do prédio, entre as peças escultóricas do artista francês, imagina-se Doshi em companhia do poeta Rilke, nascido em Praga (CZ), numa jornada transversal pelo duo espaço/tempo.
Intrigou-me o fato de que as associações tenham sido elaboradas em relação a elementos líricos presentes nos poemas de Rilke, e não exatamente em conexão com as linhas, vincos ou gestuais realistas lavrados em bronze ou mármore, tão ostensivos nas figuras humanas de Rodin – e que estavam logo ali à sua frente! Em sua beleza, poderia ele imaginar-se como modelo – e que modelo! – para emergir do bronze à eternidade, pelas mãos do artista! (rs)
J.A.R. – H.C.
Tishani Doshi
(n. 1975)
At the Rodin Museum
Rilke is following me everywhere
With his tailor-made suits
And vegetarian smile.
He says because I’m young,
I’m always beginning,
And cannot know love.
He sees how I’m a giant piece
Of glass again, trying
To catch the sun
In remote corners of rooms,
Mountain tops, uncertain
Places of light.
He speaks of the cruelty
Of hospitals, the stillness
Of cathedrals,
Takes me through bodies
And arms and legs
Of such extravagant size,
The ancient sky burrows in
With all the dead words
We carry and cannot use.
He holds up mirrors
From which our reflections fall –
Half-battered existences,
Where we lose ourselves
For the sake of the other,
And the others still to come.
Museu Rodin
(Paris - FR)
No Museu Rodin
Rilke segue-me por toda parte
Com seus ternos feitos sob medida
E sorriso vegetariano.
Diz ele que em razão de eu ser jovem,
Estou sempre começando,
E não posso conhecer o amor.
Ele vê como sou, repetidamente,
Uma enorme peça de vidro,
Tentando capturar o sol
Nos cantos remotos de cômodos,
Topos de montanhas, incertos
Lugares de luz.
Fala da crueldade
Dos hospitais, da quietude
Das catedrais,
Conduz-me por entre corpos,
Braços e pernas
de tamanho tão extravagante,
O antigo céu a encobrir-se
Com todas as palavras mortas
Que carregamos sem que as possamos usar.
Ele sustém espelhos dos quais
Precipitam-se nossos reflexos –
Existências meio desgastadas,
Em cujas sendas nos perdemos
Pelo bem do outro,
E dos demais ainda por vir.
Referência:
DOSHI, Tishani. At the Rodin museum. In:
THAYIL, Jeet (Ed.). 60 indian poets. New Delhi, IN: Penguin Books India,
2008. p. 135-136.
Nenhum comentário:
Postar um comentário