Benedetti evoca muitas das experiências por que passaram os jovens de todos os quadrantes em décadas recentes – e, muito especificamente, os de seu Uruguai natal –, como sejam, grafitismo, ceticismo, rock, cocaína, discotecas, assaltos, discotecas etc., para então propor um cenário alternativo que faça mais sentido em face da sadia utopia de se construir um mundo novo.
Cumpre, a seu ver, não deixar a vida drenar futilmente entre os dedos, não incorrer em niilismos, não “envelhecer” em plena juventude, abrir os umbrais aos propósitos éticos e de bem-comum, pacificar as demandas hieráticas, virar a página às indignidades do passado perpetradas por infames beltranos, desvelar as desonestidades de sicranos que se ocultam por trás da falsidade de uma fala ilustrada: um belo programa e mãos à obra!
J.A.R. – H.C.
Mario Benedetti
(1920-2009)
¿Qué les queda por probar a los jóvenes?
¿Qué les queda por probar a los jóvenes
en este mundo de paciencia y asco?
¿sólo grafitti? ¿rock? ¿escepticismo?
también les queda no decir amén
no dejar que les maten el amor
recuperar el habla y la utopía
ser jóvenes sin prisa y con memoria
situarse en una historia que es la suya
no convertirse en viejos prematuros
¿qué les queda por probar a los jóvenes
en este mundo de rutina y ruina?
¿cocaína? ¿cerveza? ¿barras bravas?
les queda respirar / abrir los ojos
descubrir las raíces del horror
inventar paz así sea a ponchazos
entenderse con la naturaleza
y con la lluvia y los relámpagos
y con el sentimiento y con la muerte
esa loca de atar y desatar
¿qué les queda por probar a los jóvenes
en este mundo de consumo y humo?
¿vértigo? ¿asaltos? ¿discotecas?
también les queda discutir con dios
tanto si existe como si no existe
tender manos que ayudan / abrir puertas
entre el corazón propio y el ajeno /
sobre todo les queda hacer futuro
a pesar de los ruines del pasado
y los sabios granujas del presente
En: “La vida ese parêntesis”
(1995-1997)
Casal dançando
(Mostafa Keyhani: artista irano-canadense)
O que resta aos jovens para provar
O que resta aos jovens para provar
neste mundo de paciência e repulsa?
apenas grafite? rock? ceticismo?
resta-lhes também não dizer amém
não deixar que lhes matem o amor
recuperar o discurso e a utopia
ser jovens sem pressa e com memória
situar-se numa história que seja a sua
não converter-se em velhos prematuros
o que resta aos jovens para provar
neste mundo de rotina e ruína?
cocaína? cerveja? barras bravas? (*)
resta-lhes ainda respirar / abrir os olhos
descobrir as raízes do horror
inventar a paz mesmo que à custa de socos
entender-se com a natureza
e com a chuva e com os relâmpagos
e com o sentimento e com a morte
essa louca de atar e desatar
o que resta aos jovens para provar
neste mundo de consumo e fumaça?
vertigem? assaltos? discotecas?
resta-lhes também discutir com deus
quer ele exista quer não
estender mãos para ajudar / abrir portas
entre o coração próprio e o alheio /
resta-lhes sobretudo construir o futuro
apesar dos indignos do passado
e dos sábios desonestos do presente
Em: “A vida esse parêntese” (1995-1997)
Nota:
(*). Barras bravas: torcedores fanáticos por futebol, conhecidos por incentivar suas equipes favoritas com cantorias intermináveis e fogos de artifício durante as partidas. Para mais informações, sugere-se consulta ao seguinte sítio.
Referência:
BENEDETTI, Mario. ¿Qué les queda por
probar a los jóvenes?. In: __________. Antología poética. Introducción
de Pedro Orgambide. Selección del autor. 4. ed. 8. reimp. Madrid, ES: Alianza
Editorial, 2017. p. 311-312. (‘El libro de bolsillo’)
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