Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Vinicius de Moraes - Bilhete a Baudelaire

Este soneto reflete bem o gosto pretérito de Vinicius pela poesia de língua francesa – Baudelaire, Verlaine, Rimbaud: o “poetinha” percebe com nitidez a mudança que o tempo promove sobre os padrões ou os cânones das obras poéticas, confrontando-a com a permanência da imagem, no caso, a do poeta de “As Flores do Mal”, na mais do que replicada fotografia de Étienne Carjat (1828-1906).

Veja-se que o ente lírico, ao folhear as páginas de uma obra do autor a quem se destina o “bilhete”, experimenta a mesma sensação de pensativa tristeza ou de melancolia suscitada pelo ‘spleen’ (presume-se que em face da árdua refrega visando à eternidade): o tempo, esse inimigo vigilante, obscuro e funesto que nos corrói o coração  diria Baudelaire reiteradamente!

J.A.R. – H.C.

 

Vinicius de Moraes

(1913-1980)

 

Bilhete a Baudelaire

 

Poeta, um pouco à tua maneira

E para distrair o spleen

Que estou sentindo vir a mim

Em sua ronda costumeira

 

Folheando-te, reencontro a rara

Delícia de me deparar

Com tua sordidez preclara

Na velha foto de Carjat

 

Que não revia desde o tempo

Em que te lia e te relia

A ti, a Verlaine, a Rimbaud...

 

Como passou depressa o tempo

Como mudou a poesia

Como teu rosto não mudou!

 

Los Angeles, 1947

 

Charles Baudelaire

(1821-1867)

(Fotografia de Étienne Carjat

por volta de 1862)


Referência:

MORAES, Vinicius. Bilhete a Baudelaire. In: __________. Antologia poética. 1. ed. 14. reimp. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2000. p. 186-187.

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