Acentuando as esparsas, ou mesmo nulas, chances de uma presumível expectativa de vida (ou mesmo de uma relação amorosa) ser resgatada ao seu indefectível epílogo, a voz lírica pranteia o hoje e o amanhã desesperançados, permeados pela dor que pulsa intensa no agora e que se projeta muito mais profunda no porvir.
Todas as ações do quotidiano – cozinhar, fornicar ou o que mais – não são suportadas por qualquer grão de sal que lhes acentue o sabor, revelando-se como meros exercícios mecânicos de subsistência: o mundo se tornou insosso e já não há perspectiva de que uma exuberante primavera ponha fim aos dias maçantes e destituídos do ardor de uma paixão que faça sentido por que se viver.
J.A.R. – H.C.
Idea Vilariño
(1920-2009)
No hay ninguna esperanza
No hay ninguna esperanza
de que todo se arregle
de que ceda el dolor
y el mundo se organice.
No hay que confiar en que
la vida ordene sus
caóticas instancias
sus ademanes ciegos.
No habrá un final feliz
ni un beso interminable
absorto y entregado
que preludie otros días.
Tampoco habrá una fresca
mañana perfumada
de joven primavera
para empezar alegres.
Más bien todo el dolor
invadirá de nuevo
y no habrá cosa libre
de su mácula dura.
Habrá que continuar
que seguir, respirando
que soportar la luz
y maldecir el sueño
que cocinar sin fe
fornicar sin pasión
masticar con desgano
para siempre sin lágrimas.
Nua a chorar
(Edvard Munch: pintor norueguês)
Não há nenhuma esperança
Não há nenhuma esperança
de que tudo se arranje,
de que a dor ceda
e o mundo se recomponha.
Não há por que confiar em que
a vida ordene suas
instâncias caóticas,
seus cegos gestuais.
Não haverá um final feliz
nem um beijo interminável,
enlevado e devotado,
como prelúdio para outros dias.
Tampouco haverá uma fresca
e perfumada manhã
de jovem primavera,
para se começar com alegria.
Longe disso, toda a dor
se difundirá novamente
e não haverá coisa que resista
à sua dura mácula.
Há de se continuar,
de seguir, respirando,
de suportar a luz
e maldizer o sonho,
de cozinhar sem fé,
fornicar sem paixão,
mastigar com relutância,
para sempre e sem lágrimas.
Referência:
VILARIÑOS, Idea. No hay ninguna
esperanza. In: FLORES, Ángel; FLORES, Kate (Orgs.). Poesía feminista del
mundo hispánico: desde la edad media hasta la actualidade. Antología
crítica. Edición al cuidado de María Luisa Puga. Introducción de Ángel Flores y
Kate Flores. 5. ed. México, DF: Siglo Veintiuno Editores, 2002. p. 206.
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