Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 23 de janeiro de 2022

Idea Vilariño - Não há nenhuma esperança

Acentuando as esparsas, ou mesmo nulas, chances de uma presumível expectativa de vida (ou mesmo de uma relação amorosa) ser resgatada ao seu indefectível epílogo, a voz lírica pranteia o hoje e o amanhã desesperançados, permeados pela dor que pulsa intensa no agora e que se projeta muito mais profunda no porvir.

Todas as ações do quotidiano – cozinhar, fornicar ou o que mais – não são suportadas por qualquer grão de sal que lhes acentue o sabor, revelando-se como meros exercícios mecânicos de subsistência: o mundo se tornou insosso e já não há perspectiva de que uma exuberante primavera ponha fim aos dias maçantes e destituídos do ardor de uma paixão que faça sentido por que se viver.

J.A.R. – H.C.

 

Idea Vilariño

(1920-2009)

 

No hay ninguna esperanza

 

No hay ninguna esperanza

de que todo se arregle

de que ceda el dolor

y el mundo se organice.

No hay que confiar en que

la vida ordene sus

caóticas instancias

sus ademanes ciegos.

No habrá un final feliz

ni un beso interminable

absorto y entregado

que preludie otros días.

Tampoco habrá una fresca

mañana perfumada

de joven primavera

para empezar alegres.

Más bien todo el dolor

invadirá de nuevo

y no habrá cosa libre

de su mácula dura.

Habrá que continuar

que seguir, respirando

que soportar la luz

y maldecir el sueño

que cocinar sin fe

fornicar sin pasión

masticar con desgano

para siempre sin lágrimas.

 

Nua a chorar

(Edvard Munch: pintor norueguês)

 

Não há nenhuma esperança

 

Não há nenhuma esperança

de que tudo se arranje,

de que a dor ceda

e o mundo se recomponha.

Não há por que confiar em que

a vida ordene suas

instâncias caóticas,

seus cegos gestuais.

Não haverá um final feliz

nem um beijo interminável,

enlevado e devotado,

como prelúdio para outros dias.

Tampouco haverá uma fresca

e perfumada manhã

de jovem primavera,

para se começar com alegria.

Longe disso, toda a dor

se difundirá novamente

e não haverá coisa que resista

à sua dura mácula.

Há de se continuar,

de seguir, respirando,

de suportar a luz

e maldizer o sonho,

de cozinhar sem fé,

fornicar sem paixão,

mastigar com relutância,

para sempre e sem lágrimas.


Referência:

VILARIÑOS, Idea. No hay ninguna esperanza. In: FLORES, Ángel; FLORES, Kate (Orgs.). Poesía feminista del mundo hispánico: desde la edad media hasta la actualidade. Antología crítica. Edición al cuidado de María Luisa Puga. Introducción de Ángel Flores y Kate Flores. 5. ed. México, DF: Siglo Veintiuno Editores, 2002. p. 206.

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