Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 3 de outubro de 2021

Sylvia Plath - Outono de Rã

Nos claros acentos metafóricos deste poema, Plath acaba por refletir um estado anímico toldado por desalentos e obscuros temores: como uma rã, coaxa-se e definha-se com o avançar da idade – do verão ao outono da vida –, entra-se em deterioração, em sonolências, até que o “deus da plenitude” haja desertado a outras paragens.

Cambiando entre imagens positivas e negativas, são estas últimas que, ao final, reafirmam-se aos olhos do leitor: a sensação de um irreversível declínio, de um passado grandioso a um malfadado presente, passa-se mais na mente da poetisa do que no limitado mundo da rã, onde tais dilações temporais não a levam a padecimentos, por não ter ciência de sua própria finitude.

J.A.R. – H.C.

 

Sylvia Plath

(1932-1963)

 

Frog Autumn

 

Summer grows old, cold-blooded mother.

The insects are scant, skinny.

In these palustral homes we only

Croak and wither.

 

Mornings dissipate in somnolence.

The sun brightens tardily

Among the pithless reeds. Flies fail us.

The fen sickens.

 

Frost drops even the spider. Clearly

The genius of plenitude

Houses himself elsewhwere. Our folk thin

Lamentably.

 

Boston no outono: lagoa das rãs

(Yoshi Mizutani: pintora japonesa)

 

Outono da Rã

 

O verão envelhece, mãe impiedosa.

Os insetos vão escassos, esquálidos.

Em nossos lares palustres nós apenas

Coaxamos e definhamos.

 

As manhãs se dissipam em sonolência.

O sol brilha pachorrento

Entre caniços ocos. As moscas não chegam a nós.

O charco nos repugna.

 

A geada cobre até aranhas. Obviamente

O deus da plenitude

Está morando longe daqui. Nosso povo rareia

Lamentavelmente.


Referência:

PLATH, Sylvia. Frog autumn / Outono de rã. Tradução de Jorge Wanderley. In: WANDERLEY, Márcia Cavendish; FIALHO, Carlos Eduardo; CAVENDISH, Sueli (Orgs.). Do jeito delas: vozes femininas de língua inglesa. Rio de Janeiro, RJ: 7Letras, 2008. Em inglês: p. 16; em português: p. 17.

 

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