Nos claros acentos metafóricos deste poema, Plath acaba por refletir um estado anímico toldado por desalentos e obscuros temores: como uma rã, coaxa-se e definha-se com o avançar da idade – do verão ao outono da vida –, entra-se em deterioração, em sonolências, até que o “deus da plenitude” haja desertado a outras paragens.
Cambiando entre imagens positivas e negativas, são estas últimas que, ao final, reafirmam-se aos olhos do leitor: a sensação de um irreversível declínio, de um passado grandioso a um malfadado presente, passa-se mais na mente da poetisa do que no limitado mundo da rã, onde tais dilações temporais não a levam a padecimentos, por não ter ciência de sua própria finitude.
J.A.R. – H.C.
Sylvia Plath
(1932-1963)
Frog Autumn
Summer grows old, cold-blooded mother.
The insects are scant, skinny.
In these palustral homes we only
Croak and wither.
Mornings dissipate in somnolence.
The sun brightens tardily
Among the pithless reeds. Flies fail us.
The fen sickens.
Frost drops even the spider. Clearly
The genius of plenitude
Houses himself elsewhwere. Our folk thin
Lamentably.
Boston no outono: lagoa das rãs
(Yoshi Mizutani: pintora japonesa)
Outono da Rã
O verão envelhece, mãe impiedosa.
Os insetos vão escassos, esquálidos.
Em nossos lares palustres nós apenas
Coaxamos e definhamos.
As manhãs se dissipam em sonolência.
O sol brilha pachorrento
Entre caniços ocos. As moscas não chegam a nós.
O charco nos repugna.
A geada cobre até aranhas. Obviamente
O deus da plenitude
Está morando longe daqui. Nosso povo rareia
Lamentavelmente.
Referência:
PLATH, Sylvia. Frog autumn / Outono de
rã. Tradução de Jorge Wanderley. In: WANDERLEY, Márcia Cavendish; FIALHO,
Carlos Eduardo; CAVENDISH, Sueli (Orgs.). Do jeito delas: vozes
femininas de língua inglesa. Rio de Janeiro, RJ: 7Letras, 2008. Em inglês: p. 16;
em português: p. 17.
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