O poeta e literato pernambucano presta homenagem ao ensaísta, tradutor – e também poeta – Paul Celan (1920 – 1970), titulando o seu poema com similar designativo de uma recolha deste último (“Die Niemandsrose”, 1963), aludindo, de algum modo, ao viés mais hermético e lúgubre de sua poesia, bem assim – em manifesta intertextualidade com os primeiros versos de “A terra desolada”, de T. S. Eliot (1888-1965) – aos contratempos que o levaram ao suicídio, em meados de abril de 1970.
Como se estivesse em frente ao túmulo do poeta no cemitério judeu de Thiais, Paris (FR), portando um exemplar da supracitada obra de Celan, o falante faz tombar versos contritos sobre a sua lápide, deplorando o estado de coisas a denotar olvido com tudo o que se passou ao autor romeno e ao seu legado – uma crônica de dor reverberante, feito “rosa que nunca se abriu”.
J.A.R. – H.C.
Fábio Cavalcante de Andrade
(n. 1977)
Rosa de ninguém
para Paul Celan
Cheguei
trazendo na bagagem
este tesouro
de silêncio e pedra contra pedra
a lágrima impossível
no fundo deste rio
cristais humanos
no lodo do poço
sem esforço
a palavra esquecimento
surge na superfície e reflete
nas escamas teu nome de luz
Aqui no túmulo
breu profundo das utopias
mergulha teu anagrama
e nome original, Anczel
que é uma navalha
Trinta anos depois
abril continua
o mais terrível dos meses
e tua dor repercute
como esta rosa que nunca abriu.
Rosa
(Sina Irani: artista irano-americano)
Referência:
ANDRADE, Fábio Cavalcante de. Rosa de
ninguém. In: PEDROSA, Cida; SIQUEIRA, Elizabeth, JAPIASSU, Janice (Orgs.). Coletânea
Ladjane Bandeira de Poesia. Recife, PE: Fundação de Cultura Cidade do
Recife, 2007). p. 40. (Coleção ‘Ladjane Bandeira de Poesia’; v.2)
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