Algo não vai bem no relacionamento entre o falante e a sua companheira, para que este veja as coisas em melhor tom nos dias que já se foram, não exatamente no momento presente. Mas a despeito do que haja ocorrido – não há elementos dos quais se possam deduzir as razões para a dissensão –, vê-se que ainda se dispõe a tentar recompor o convívio.
Os versos fluem sucintos e francos, cotejando o ontem, vividamente pejado de um “rouge” sensual e inebriado, com o hoje de um silêncio atroz, sem “nada para dizer / que não seja demasiado ordinário ou triste”: a sensação de estar perdido e sem apoio é aquela comum a quem um dia, confiando na estabilidade da relação, vê, de um dia para outro, o solo mover-se a seus pés.
J.A.R. – H.C.
Quinton Duval
(1948-2010)
The Best Days
The sun was an old ball
in those days. The moon
was a dish of milk
in a blue night on sheets.
We were always thirsty
then. Wine flowed red
in our hearts. Love
was the way we felt
all over, every minute.
I’m not complaining
about now. I’m just lost
and not getting any help.
No one can break
the time we spent
together. We remember
the pink mud house,
startled cypresses
flickering in rain.
The morning we awoke
to the sound of summer
beating across the desert
driving clouds before it.
There is one half a red kiss
on your cup there
where you left it. It’s still
warm because you just left.
This is a good day, maybe
one of the best. I don’t know
for now. Those good days
are inside us, in heaven,
whatever you want to say.
They are more or less
gone, like you driving
to work, like me sitting here
with nothing to say
that isn’t too ordinary or sad.
O café da manhã do casal
(Pietro Longhi: pintor italiano)
Os Melhores Dias
O sol era uma bola velha
naqueles dias. A lua,
um prato de leite
numa noite azul sobre lençóis.
Estávamos sempre sedentos
então. O vinho fluía vermelho
em nossos corações. O amor
era a forma como nos sentíamos por
toda parte, a cada minuto.
Não estou me queixando
sobre o agora. Apenas estou perdido
e não recebo nenhuma ajuda.
Ninguém pode romper
o tempo que passamos
juntos. Lembremo-nos
da casa de barro cor-de-rosa,
ciprestes sobressaltados
tremeluzindo na chuva.
A manhã em que despertamos
ao som do verão
pulsando através do deserto
movendo nuvens à sua frente.
Há um meio beijo vermelho
em tua xícara lá
onde a deixaste. Ainda está
quente porque acabaste de sair.
Este é um bom dia, talvez
um dos melhores. Não sei
por agora. Aqueles bons dias
estão dentro de nós, no firmamento,
o que quer que tenciones dizer.
Estão mais ou menos
ausentes, como tu dirigindo
para o trabalho, como eu aqui sentado
sem nada a dizer
que não seja demasiado ordinário ou triste.
Referência:
DUVAL, Quinton. The best days. In:
MAYES, Frances. The discovery of poetry: a field guide to reading and
writing poems. 1st Harvest ed. San Diego, CA: Harvest & Harcout, 2001. p.
133-134.
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