O falante, neste poema do poeta escocês, discorre sobre os animais no alegórico quinto dia da Criação, segundo o Gênesis, tergiversando sobre o lado menos favorecido de não poderem falar por si próprios – do que se depreende que a mirada sobre a realidade tem um viés demarcadamente, centrado em nossa linguagem – pois que, seja como for, os animais têm as suas!
Sob outra perspectiva, não sentem eles os efeitos do tempo (passado, presente ou futuro são abstrações que não lhes dizem respeito!) e de seu trabalho sobre seus membros, explico-me melhor, não se afligem “mentalmente” pela finitude de seus dias. Afinal, tais preocupações apenas surgiram com a criação do Homem, no dia subsequente.
J.A.R. – H.C.
Edwin Muir
(1887-1959)
The Animals
They do not live in the world,
Are not in time and space.
From birth to death hurled
No word do they have, not one
To plant a foot upon,
Were never in any place.
For with names the world was called
Out of the empty air,
With names was built and walled,
Line and circle and square,
Dust and emerald;
Snatched from deceiving death
By the articulate breath.
But these have never trod
Twice the familiar track,
Never never turned back
Into the memoried day.
All is new and near
In the unchanging Here
Of the fifth great day of God,
That shall remain the same,
Never shall pass away.
On the sixth day we came.
Orfeu encantando os animais 2
(Giovanni F. Castiglione: pintor italiano)
Os Animais
Eles não vivem no mundo,
Não estão em tempo ou lugar.
Do berço à morte – um segundo
Sem que uma palavra, ao menos,
De entre inúmeros terrenos
Possuam, para pisar.
O mundo foi nomeado
Contra vazios espaços
– De nomes foi planejado:
Quadrados, círculos, traços,
Poeira, esmeralda;
Poupado de estar desfeito
Por um fôlego perfeito.
Porém nenhum recorreu
À trilha familiar;
Nunca voltaram o olhar
Ao dia rememorado.
Tudo é novo, amável,
Neste Aqui imutável
Do quinto dia de Deus
Que preservará Seus planos,
Nunca terá passado.
No sexto dia, chegamos.
Referência:
MUIR, Edwin. The animals / Os animais.
Tradução de Jorge Wanderley. In: WANDERLEY, Jorge (Organização, Tradução e
Notas). 22 ingleses modernos: uma antologia poética. Rio de Janeiro, RJ:
Civilização Brasileira, 1993. Em inglês: p. 74; em português: p. 75.
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