Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 9 de outubro de 2021

Edwin Muir - Os Animais

O falante, neste poema do poeta escocês, discorre sobre os animais no alegórico quinto dia da Criação, segundo o Gênesis, tergiversando sobre o lado menos favorecido de não poderem falar por si próprios – do que se depreende que a mirada sobre a realidade tem um viés demarcadamente, centrado em nossa linguagem – pois que, seja como for, os animais têm as suas!

Sob outra perspectiva, não sentem eles os efeitos do tempo (passado, presente ou futuro são abstrações que não lhes dizem respeito!) e de seu trabalho sobre seus membros, explico-me melhor, não se afligem “mentalmente” pela finitude de seus dias. Afinal, tais preocupações apenas surgiram com a criação do Homem, no dia subsequente.

J.A.R. – H.C.

 

Edwin Muir

(1887-1959)

 

The Animals

 

They do not live in the world,

Are not in time and space.

From birth to death hurled

No word do they have, not one

To plant a foot upon,

Were never in any place.

 

For with names the world was called

Out of the empty air,

With names was built and walled,

Line and circle and square,

Dust and emerald;

Snatched from deceiving death

By the articulate breath.

 

But these have never trod

Twice the familiar track,

Never never turned back

Into the memoried day.

All is new and near

In the unchanging Here

Of the fifth great day of God,

That shall remain the same,

Never shall pass away.

 

On the sixth day we came.

 

Orfeu encantando os animais 2

(Giovanni F. Castiglione: pintor italiano)

 

Os Animais

 

Eles não vivem no mundo,

Não estão em tempo ou lugar.

Do berço à morte – um segundo

Sem que uma palavra, ao menos,

De entre inúmeros terrenos

Possuam, para pisar.

 

O mundo foi nomeado

Contra vazios espaços

– De nomes foi planejado:

Quadrados, círculos, traços,

Poeira, esmeralda;

Poupado de estar desfeito

Por um fôlego perfeito.

 

Porém nenhum recorreu

À trilha familiar;

Nunca voltaram o olhar

Ao dia rememorado.

Tudo é novo, amável,

Neste Aqui imutável

Do quinto dia de Deus

Que preservará Seus planos,

Nunca terá passado.

 

No sexto dia, chegamos.


Referência:

MUIR, Edwin. The animals / Os animais. Tradução de Jorge Wanderley. In: WANDERLEY, Jorge (Organização, Tradução e Notas). 22 ingleses modernos: uma antologia poética. Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira, 1993. Em inglês: p. 74; em português: p. 75.

Nenhum comentário:

Postar um comentário