Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 10 de outubro de 2021

D. H. Lawrence - Gloire de Dijon

O falante põe-se a contemplar sua companheira ao despertar, a forma como dispõe a toalha no parapeito da janela e se banha, como se uma Vênus fosse, com a sua pele a refletir o brilho acetinado de um tipo específico de rosa – a “Glória de Dijon”: estender, inclinar-se, balançar, aspergir são ações a compendiar o sentido de infixidez das formas, sobre as quais luzes e cores incidem e profusamente se refletem.

A imagem que se firma aos olhos do leitor, filtrada pelos sentidos do observador da cena, por vezes embaralha deliberadamente o que se passa no exterior e o que lhe vai no espírito, tornando explícita a precária definição do que seja a realidade propriamente dita, a partir do que se percebe e se representa por meio da inteligibilidade das palavras.

J.A.R. – H.C.

 

D. H. Lawrence

(1885-1930)

 

Gloire de Dijon

 

When she rises in the morning

I linger to watch her;

She spreads the bath-cloth underneath the window

And the sunbeams catch her

Glistening white on the shoulders,

While down her sides the mellow

Golden shadow glows as

She stoops to the sponge, and her swung breasts

Sway like full-blown yellow

Gloire de Dijon roses.

 

She drips herself with water, and her shoulders

Glisten as silver, they crumple up

Like wet and falling roses, and I listen

For the sluicing of their rain-dishevelled petals.

In the window full of sunlight

Concentrates her golden shadow

Fold on fold, until it glows as

Mellow as the glory roses.

 

Uvas hambro pretas e douradas, rosa “Glória de Dijon”,

gerânio, taça, ninho de pintarroxo, framboesas

(Edward Ladell: pintor inglês)

 

Gloire de Dijon (*)

 

Quando pela manhã ela se levanta,

Demoro-me a observá-la;

Estende a toalha sobre o peitoril da janela

E os raios do sol a atingem

Sobre os ombros brancos e reluzentes,

Enquanto desce-lhe pelos flancos uma suave

E cintilante sombra dourada, quando se banha

Com a esponja e seus seios balançam

Num vaivém, como rosas amarelas

“Gloire de Dijon” plenamente desabrochadas.

 

Asperge-se água e seus ombros

Brilham feito prata, comprimem-se

Como rosas que pendem molhadas, e eu ouço

O fluxo da chuva a desgrenhar suas pétalas.

À janela tomada pela luz do sol

Sua sombra dourada se concentra,

Dobra sobre dobra, até que se ponha a luzir tão

Suavemente quanto as gloriosas rosas.


Nota:

(*) Glorie de Dijon (“Glória de Dijon”): um tipo de rosa.

Referência:

LAWRENCE, D. H. Gloire de Dijon. In: MAYES, Frances. The discovery of poetry: a field guide to Reading and writing poems. 1st Harvest ed. San Diego, CA: Harvest & Harcout, 2001. p. 69.

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