O falante põe-se a contemplar sua companheira ao despertar, a forma como dispõe a toalha no parapeito da janela e se banha, como se uma Vênus fosse, com a sua pele a refletir o brilho acetinado de um tipo específico de rosa – a “Glória de Dijon”: estender, inclinar-se, balançar, aspergir são ações a compendiar o sentido de infixidez das formas, sobre as quais luzes e cores incidem e profusamente se refletem.
A imagem que se firma aos olhos do leitor, filtrada pelos sentidos do observador da cena, por vezes embaralha deliberadamente o que se passa no exterior e o que lhe vai no espírito, tornando explícita a precária definição do que seja a realidade propriamente dita, a partir do que se percebe e se representa por meio da inteligibilidade das palavras.
J.A.R. – H.C.
D. H. Lawrence
(1885-1930)
Gloire de Dijon
When she rises in the morning
I linger to watch her;
She spreads the bath-cloth underneath the window
And the sunbeams catch her
Glistening white on the shoulders,
While down her sides the mellow
Golden shadow glows as
She stoops to the sponge, and her swung breasts
Sway like full-blown yellow
Gloire de Dijon roses.
She drips herself with water, and her shoulders
Glisten as silver, they crumple up
Like wet and falling roses, and I listen
For the sluicing of their rain-dishevelled petals.
In the window full of sunlight
Concentrates her golden shadow
Fold on fold, until it glows as
Mellow as the glory roses.
Uvas hambro pretas e douradas, rosa “Glória de
Dijon”,
gerânio, taça, ninho de pintarroxo, framboesas
(Edward Ladell: pintor inglês)
Gloire de Dijon (*)
Quando pela manhã ela se levanta,
Demoro-me a observá-la;
Estende a toalha sobre o peitoril da janela
E os raios do sol a atingem
Sobre os ombros brancos e reluzentes,
Enquanto desce-lhe pelos flancos uma suave
E cintilante sombra dourada, quando se banha
Com a esponja e seus seios balançam
Num vaivém, como rosas amarelas
“Gloire de Dijon” plenamente desabrochadas.
Asperge-se água e seus ombros
Brilham feito prata, comprimem-se
Como rosas que pendem molhadas, e eu ouço
O fluxo da chuva a desgrenhar suas pétalas.
À janela tomada pela luz do sol
Sua sombra dourada se concentra,
Dobra sobre dobra, até que se ponha a luzir tão
Suavemente quanto as gloriosas rosas.
Nota:
(*) Glorie de Dijon (“Glória de Dijon”): um tipo de rosa.
Referência:
LAWRENCE, D. H. Gloire de Dijon. In:
MAYES, Frances. The discovery of poetry: a field guide to Reading and
writing poems. 1st Harvest ed. San Diego, CA: Harvest & Harcout, 2001. p. 69.
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