Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

Ezra Pound - A Água-furtada

Pound diz lamentar aqueles que se encontram em situação melhor do que a sua e a de um não identificado amigo, isto por serem ricos, pois não teriam amigos, senão apenas mordomos – sejam lá quais forem os atributos, presumivelmente não oportunos, que estes possam estampar –, estendendo tais lamentos, ainda, aos “casados e solteiros” – o que implicaria abarcar todo mundo! Ou haveria uma zona de transição? (rs)

O poeta, de fato, canta loas a uma vida simples, despojada até – como seria de se esperar a quem vive numa água-furtada –, no curso da qual despertaria com a luz dourada do amanhecer a penetrar-lhe o recinto como uma bailarina de pés leves e pequenos – a russa Anna Pavlova (1881-1931) serve-lhe de referência –, junto à sua amada, musa de seus mais recônditos anelos.

J.A.R. – H.C.

 

Ezra Pound

(1885-1972)

 

The Garret

 

Come, let us pity those who are better off

than we are.

Come, my friend, and remember

that the rich have butlers and no friends,

And we have friends and no butlers.

Come, let us pity the married and the unmarried.

 

Dawn enters with little feet

like a gilded Pavlova

And I am near my desire.

Nor has life in it aught better

Than this hour of clear coolness,

the hour of waking together.

 

In: “Lustra” (1916)

 

A Água-furtada

(Carl Spitzweg: pintor alemão)

 

A Água-furtada

 

Vamos, lamentemos os que estão em melhor

situação que a nossa.

Vamos, meu amigo, e lembra-te:

os ricos têm mordomos e não têm amigos,

E nós temos amigos e não temos mordomos.

Vamos, lamentemos os casados e os solteiros.

 

A aurora entra com pés pequenos

Pavlova dourada,

E estou perto do meu desejo.

E a vida não tem nada de melhor

Que esta hora de claro frescor,

a hora de acordar juntos.

 

Em: “Lustra” (1916)


Referências:

Em Inglês

POUND, Ezra. The garret. In: __________. Ezra Pound’s poetry and prose. Contributions to periodicals in ten volumes. Volume I: 1902-1914 (C0-C167). New York (NY) & London (EN): Garland Publishing Inc., 1991. p. 133.

Em Português

POUND, Ezra. A água-furtada. Tradução de Mário Faustino. In: FAUSTINO, Mário. Melhores poemas de Mário Faustino. Seleção de Benedito Nunes. 3. ed. São Paulo, SP: Global, 2000. p. 97. (‘Melhores Poemas’; n. 14)

Um comentário:

  1. A Água-Furtada, belo poema de Esra Pound, é o nome da emoção desse instante, com o impecável registro de leitura do autor do blog, J. A. Rodrigues. (Geraldo Reis - www.poetageraldoreis.blogspot.com BH, 25 Jan 2023.

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