Pejado de vocábulos próprios e nomenclaturas latinas atinentes a fungos e cogumelos, este poema tira o leitor de sua zona de conforto, para fazê-lo companheiro do falante em suas aventuras em busca de cogumelos comestíveis nas Montanhas Jemez, localizadas no Estado do Novo México, sudoeste dos Estados Unidos.
A voz lírica ciente está dos perigos em se dedicar a ser tão especificamente científica, ao empregar uma linguagem taxonômica a cada espécie de cogumelos que encontra pelo caminho, nomeando-as no poema – pois que poderia estar incorrendo em indesejados erros.
No mais, muitas palavras que nos levam ao dicionário para desvendar-lhes os significados, “micorriza” sendo a mais inusual delas, uma associação simbiótica entre certos tipos de fungos e raízes de determinadas plantas – tudo a ver com o tema do poema –, mas que, em emprego adjetivado num de seus versos, desloca-lhe o sentido para certa “simbiose” do falante com a natureza: o internauta compreenderá melhor sobre o que ora se comenta, ao ler as duas últimas linhas do poema!
J.A.R. – H.C.
Arthur Sze
(n. 1950)
Mushroom Hunting in the Jemez Mountains
Walking in a mountain meadow toward the north
slope,
I see redcap amanitas with white warts and know
they signal cèpes. I see a few colonies of puffballs,
red russulas with chalk-white stipes, brown-gilled
Poison Pie. In the shade under spruce are two
red-pored boletes: slice them in half and the flesh
turns blue in seconds. Under fir is a single
amanita
with basal cup, flaring annulus, white cap: is it
the Rocky Mountain form of Amanita pantherina?
I am aware of danger in naming, in
misidentification,
in imposing the distinctions of a taxonomic
language
onto the things themselves. I know I have only
a few hours to hunt mushrooms before early
afternoon rain.
I know it is a mistake to think I am moving and
that agarics are still: they are more transient
than we acknowledge, more susceptible to full moon,
to a single rain, to night air, to a moment of
sunshine.
I know in this meadow my passions are mycorrhizal
with nature. I may shout out ecstasies, aches,
griefs,
and hear them vanish in the white-pored silence.
“Hygrocybe Punicea”: velho toco
queimado com cogumelos cerosos escarlates
(Lucy Martin: artista norte-americana)
À Procura de Cogumelos nas Montanhas
Jemez
Caminhando por um prado na montanha rumo à encosta
norte,
vejo amanitas de píleo vermelho com verrugas brancas
a sinalizar
cogumelos comestíveis. Vejo algumas colônias de
licoperdos,
rússulas vermelhas com estrias brancas feito giz, hebelomas
tóxicos
de lamelas pardas. À sombra de um abeto encontram-se
dois
boletes de poros vermelhos: é cortá-los ao meio e a
polpa
torna-se azul em segundos. Sob o abeto há um único
amanita
com volva na base, anel em leque, píleo branco:
seria
a forma da Amanita pantherina nas Montanhas
Rochosas?
Estou ciente do perigo em nomear, em identificar
erroneamente,
em impor as distinções de uma linguagem taxonômica
às próprias coisas. Sei que só tenho algumas horas
par procurar
cogumelos antes que sobrevenha a chuva do início da
tarde.
Sei que é um erro pensar que estou em movimento,
enquanto os
agáricos inertes: são mais transitórios do que
os reconhecemos, mais suscetíveis à lua cheia,
a uma única chuva, ao ar noturno, a um momento sob
o sol.
Sei que neste prado minhas paixões são micorrízicas
com a natureza. Posso gritar em êxtases, pesares,
aflições,
e escutá-los desvanecer no silêncio dos poros
brancos.
Referência:
SZE, Arthur. Mushroom hunting in the
Jemez Mountains. In: MAYES, Frances. The discovery of poetry: a field
guide to reading and writing poems. 1st Harvest ed. San Diego, CA: Harvest
& Harcout, 2001. p. 64.
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