Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Arthur Sze - À Procura de Cogumelos nas Montanhas Jemez

Pejado de vocábulos próprios e nomenclaturas latinas atinentes a fungos e cogumelos, este poema tira o leitor de sua zona de conforto, para fazê-lo companheiro do falante em suas aventuras em busca de cogumelos comestíveis nas Montanhas Jemez, localizadas no Estado do Novo México, sudoeste dos Estados Unidos.

A voz lírica ciente está dos perigos em se dedicar a ser tão especificamente científica, ao empregar uma linguagem taxonômica a cada espécie de cogumelos que encontra pelo caminho, nomeando-as no poema – pois que poderia estar incorrendo em indesejados erros.

No mais, muitas palavras que nos levam ao dicionário para desvendar-lhes os significados, “micorriza” sendo a mais inusual delas, uma associação simbiótica entre certos tipos de fungos e raízes de determinadas plantas – tudo a ver com o tema do poema –, mas que, em emprego adjetivado num de seus versos, desloca-lhe o sentido para certa “simbiose” do falante com a natureza: o internauta compreenderá melhor sobre o que ora se comenta, ao ler as duas últimas linhas do poema!

J.A.R. – H.C.

 

Arthur Sze

(n. 1950)

 

Mushroom Hunting in the Jemez Mountains

 

Walking in a mountain meadow toward the north slope,

I see redcap amanitas with white warts and know

they signal cèpes. I see a few colonies of puffballs,

red russulas with chalk-white stipes, brown-gilled

Poison Pie. In the shade under spruce are two

red-pored boletes: slice them in half and the flesh

turns blue in seconds. Under fir is a single amanita

with basal cup, flaring annulus, white cap: is it

the Rocky Mountain form of Amanita pantherina?

I am aware of danger in naming, in misidentification,

in imposing the distinctions of a taxonomic language

onto the things themselves. I know I have only

a few hours to hunt mushrooms before early afternoon rain.

I know it is a mistake to think I am moving and

that agarics are still: they are more transient

than we acknowledge, more susceptible to full moon,

to a single rain, to night air, to a moment of sunshine.

I know in this meadow my passions are mycorrhizal

with nature. I may shout out ecstasies, aches, griefs,

and hear them vanish in the white-pored silence.

 

“Hygrocybe Punicea”: velho toco

queimado com cogumelos cerosos escarlates

(Lucy Martin: artista norte-americana)

 

À Procura de Cogumelos nas Montanhas Jemez

 

Caminhando por um prado na montanha rumo à encosta norte,

vejo amanitas de píleo vermelho com verrugas brancas a sinalizar

cogumelos comestíveis. Vejo algumas colônias de licoperdos,

rússulas vermelhas com estrias brancas feito giz, hebelomas tóxicos

de lamelas pardas. À sombra de um abeto encontram-se dois

boletes de poros vermelhos: é cortá-los ao meio e a polpa

torna-se azul em segundos. Sob o abeto há um único amanita

com volva na base, anel em leque, píleo branco: seria

a forma da Amanita pantherina nas Montanhas Rochosas?

Estou ciente do perigo em nomear, em identificar erroneamente,

em impor as distinções de uma linguagem taxonômica

às próprias coisas. Sei que só tenho algumas horas par procurar

cogumelos antes que sobrevenha a chuva do início da tarde.

Sei que é um erro pensar que estou em movimento, enquanto os

agáricos inertes: são mais transitórios do que

os reconhecemos, mais suscetíveis à lua cheia,

a uma única chuva, ao ar noturno, a um momento sob o sol.

Sei que neste prado minhas paixões são micorrízicas

com a natureza. Posso gritar em êxtases, pesares, aflições,

e escutá-los desvanecer no silêncio dos poros brancos.


Referência:

SZE, Arthur. Mushroom hunting in the Jemez Mountains. In: MAYES, Frances. The discovery of poetry: a field guide to reading and writing poems. 1st Harvest ed. San Diego, CA: Harvest & Harcout, 2001. p. 64.

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