Palavras e palavras, tantas a soçobrar, mas incapazes de apreender os fatos ou as circunstâncias de momento, inúteis portanto, sendo o silêncio ainda mais eloquente para estabelecer um diálogo tácito entre os intervenientes: eis o estado de falência de todo discurso, tanto mais daqueles que tentam justificar, pretextar, arguir ou até mesmo distorcer o sucedido.
Com efeito, as palavras perdem o seu sentido quando eivadas de inverdades – como as malfadadas ‘fake news’ –, porque se propõem a recriar o mundo em realidades paralelas adulteradas, pejadas de narrativas romanescas sem qualquer fundamento, a denegrir pessoas – físicas ou jurídicas –, num completo desrespeito aos preceitos constitucionais. Mais grave ainda quando são as próprias instituições – que deveriam zelar por sua integridade! – os seus veiculadores!
J.A.R. – H.C.
Darcy França Denófrio
(n. 1936)
Falência das Palavras
Há momentos
em que as palavras
são inúteis.
O silêncio
é a única moeda
capaz de circular
estabelecendo
o comércio tácito
entre os falantes.
Não há o que dizer
para acrescentar
nem diminuir.
As palavras
soçobram.
O silêncio consome cada movimento
(Andrew Salgado: pintor canadense)
Referência:
DENÓFRIO, Darcy França. Falência das
palavras. In: __________. 50 poemas escolhidos pelo autor: Darcy França
Denófrio. Rio de Janeiro, RJ: Galo Branco, 2011. p. 46. (Coleção ‘50 poemas
escolhidos pelo autor’; v. 58)
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